Painéis solares dificilmente permitirão detectar civilização extraterrestre

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Tentar detectar vida extraterrestre inteligente é uma tarefa inglória, e um novo estudo mostra que é ainda mais difícil do que o que antes se pensava. Mesmo que civilizações estejam se esbaldando no consumo de energia, sua presença seria bem difícil de notar.

Já são mais de seis décadas de resultados negativos. A busca começou para valer a partir de 1960, com as primeiras iniciativas conhecidas pela sigla inglesa Seti ("busca por inteligência extraterrestre"), que consistiam na tentativa de detectar sinais de rádio emitidos por hipotéticas civilizações instaladas em planetas em torno de outras estrelas.

Mais recentemente, as buscas passaram também a envolver a caça a sinais de laser. Mas, em ambos os casos, o esforço exige uma disposição desse pessoal de querer ser encontrado –na prática, os sinais teriam de ser especificamente direcionados para nós. Até agora, nada convincente foi detectado.

Com o desenvolvimento de telescópios espaciais cada vez mais potentes, a Nasa começou a explorar a ideia da busca por tecnoassinaturas passivas, ou seja, sinais produzidos por tecnologia que não dependessem da boa-vontade dos alienígenas. Uma delas é a detecção da presença de grandes conjuntos de painéis solares no entorno ou na superfície de exoplanetas potencialmente habitáveis.

É explorando esse recorte que entra em cena o novo estudo liderado por Ravi Kopparapu, astrônomo do Centro Goddard de Voo Espacial, e publicado no Astrophysical Journal. Primeiro, o grupo calculou quanta energia solar seria necessária para abastecer a Terra toda com eletricidade, partindo do nível de consumo registrado em 2022. Descobriram que, para fazer isso, seria preciso cobrir 2,4% do planeta com painéis solares. E, se for preciso atender a uma população futura de até 30 bilhões de pessoas (hoje somos 8 bilhões), a cobertura total teria de ser de 8,9%.

O copo meio cheio dessa conta é a demonstração de que, só com a coleta da energia solar que chega à Terra, seria possível abastecer a humanidade inteira com alguma folga (até porque, por outras razões, o planeta está longe de ser capaz de comportar todo esse monte de gente). Isso sem falar em outras fontes de energia limpa inovadoras já disponíveis ou em vias de ser realidade, da geração eólica à fusão nuclear.

O copo meio vazio é que, se uma civilização extraterrestre seguir esse mesmo caminho, vai cobrir sua demanda de forma a tornar a detecção dessa tecnoassinatura bem difícil. Usando o futuro Observatório de Mundos Habitáveis, telescópio espacial avançado que a Nasa pretende lançar na década de 2040, mesmo com uma cobertura de painéis solares de 23% (tratados como limite máximo do estudo), seria preciso fazer muitas centenas de horas de observação do planeta para detectar com clareza o padrão gerado pela presença dos dispositivos. E estaríamos limitados a observar uns poucos planetas, a até uns 30 anos-luz de distância. Em contraste, a Via Láctea tem uns 90 mil anos-luz de diâmetro.

O resultado é mais um a demonstrar o grande desafio que envolve as pesquisas Seti, capazes de tornar a procura de uma agulha num palheiro um desafio trivial. Daí também a importância de não tirarmos conclusões apressadas pelo fato de que, passadas mais de seis décadas de busca, ainda não encontramos nada que indique a presença de vida inteligente além da Terra. Eles provavelmente são bem discretos.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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