Um artigo publicado nesta segunda-a (17) na revista Nature traz novas informações de crianças com câncer que tiveram acesso à tecnologia CAR-T para tratar os tumores.
No estudo, os cientistas responsáveis descreveram o sucesso do tratamento com o passar dos anos, sendo que um participante apresentou a remissão do câncer por 18 anos, período que ultrapassa outros casos relatados do tipo.
A CAR-T utiliza células do sistema imune extraídas do paciente e geneticamente modificadas para reconhecer e atacar as células tumorais. A terapia vem sendo utilizada para o tratamento de alguns tipos de câncer, com diferentes casos de sucesso na remissão dos tumores.
O artigo traz novos dados de um estudo que, entre 2004 e 2009, aplicou a tecnologia em menores com neuroblastoma, tumor que acomete normalmente o sistema nervoso de crianças de menos de dez anos.
A pesquisa original tinha dois objetivos principais. O primeiro era entender a segurança do tratamento com CAR-T, até então em estágio inicial. O segundo era averiguar a atividade antitumoral proporcionada pela terapia e se esse efeito persiste com o passar do tempo.
A publicação desta segunda-feira recente foca esse segundo objetivo. Anteriormente, os autores do estudo, todos vinculados a instituições no Texas, nos Estados Unidos, já haviam averiguado o desfecho da terapia após cinco anos da aplicação.
Com a atualização, os pesquisadores voltaram a divulgar informações sobre os 19 pacientes da investigação original. Desses participantes, 11 apresentavam o tumor ativo no momento da aplicação da CAR-T; os outros 8, mesmo sem apresentar a doença ativa, também foram tratados com a terapia experimental.
Do grupo de 11 crianças que estavam com o tumor ativo quando acessaram o tratamento, 3 tiveram uma resposta completa e eficaz na remissão do tumor e 1 apresentou uma resposta parcial. Dentre os 3 com resposta completa, 1 teve recaída, o que não ocorreu com os outros 2 participantes.
Desses dois que mantiveram o sucesso da remissão do câncer depois da adoção da CAR-T, os pesquisadores só conseguiram avaliar completamente um. Já faz 18 anos que esse paciente mantém o controle do tumor. "[Paciente] tinha lesões ósseas antes de receber CAR-T e atingiu uma remissão completa", dizem os autores.
O outro participante que manteve remissão completa teve seu perfil analisado por oito anos a partir do início da terapia, mas saiu do estudo depois disso.
Enquanto isso, os oito pacientes sem doença ativa quando começaram a pesquisa também foram acompanhados anualmente pelos cientistas. No período entre dez e 15 anos a partir da infusão da terapia, cinco apresentaram remissão completa do tumor.
Muitos dos 19 pacientes não tiveram a remissão do neuroblastoma como desfecho após a CAR-T, já que 12 deles morreram em até sete anos após a infusão da terapia, todos por causa do câncer.
Os dados encontrados com o acompanhamento dos outros participantes, contudo, são importantes por trazerem evidências do efeito da terapia em proporcionar a remissão de tumores sólidos. Até então, a CAR-T é reconhecida principalmente como uma forma experimental para tratar tumores do sangue, como leucemia, mas não em cânceres sólidos, que é o caso do neuroblastoma.
Além disso, poucas pesquisas conseguem acompanhar pacientes de CAR-T por um longo período de tempo. Os autores do artigo afirmam que outras publicações já relataram os efeitos da terapia em pacientes com tumores do sangue em até dez anos após a infusão das células modificadas.
"Aqui, fornecemos dados sobre oito pacientes que sobreviveram mais de cinco anos após o tratamento com células CAR-T para um tumor sólido, dos quais cinco têm acompanhamento de 13 anos a mais de 18 anos", completam os cientistas no artigo.