Não são só os espectadores que estão discutindo, nas redes sociais, se Erik e Lyle Menendez deveriam ser soltos. Os irmãos, que mataram os pais nos Estados Unidos há 35 anos, foram condenados à prisão perpétua e agora são retratados numa série, lançada há uma semana, e num documentário, previsto para o início de outubro, ambos na Netflix.
O elenco também está dividido. Nicholas Chavez, que interpreta Lyle, é breve ao ser questionado. "Este é um assunto para a Justiça americana decidir", ele diz, em entrevista por videoconferência, com o semblante fechado. Já Cooper Koch, que encarna Erik, não hesita em afirmar que a sentença deveria ser revista.
"Já passou da hora de reavaliar. Eles passaram por uma reabilitação incrível, fizeram terapia, são pessoas íntegras e eu realmente tenho a esperança de que, com o novo promotor de Justiça que será eleito na Califórnia, com o novo governador, eles possam receber a liberdade condicional", diz.
Esse dilema é um elemento central de "Monstros - Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais". Ao longo de nove episódios, o argumento dos irmãos —de que mataram porque sofriam abuso físico, emocional e principalmente sexual por parte dos pais— é confrontado pelo da promotoria de Justiça —de que a dupla cometeu o crime para pôr as mãos numa herança multimilionária.
Chloë Sevigny, no papel da matriarca Kitty Menendez, faz coro a Chavez e prefere não opinar. Já Ari Graynor, que vive a advogada de defesa Leslie Abramson, está alinhada a Koch, assim como Nathan Lane, que interpreta o jornalista Dominick Dunne, um dos principais a cobrir o caso na imprensa americana nos anos 1990.
"A pena deveria ao menos ser reconsiderada. O que você acha?", diz Dunne, pedindo que Graynor siga com a resposta. "Prisão perpétua é uma sentença desumana. Não é pena de morte, graças a Deus, mas é quase isso. Tanto que é ilegal em muitos países. Nossa cultura mudou muito, e espero que isso seja revisto", diz a atriz.
Esta não é a primeira vez em que os Menendez enfrentam o julgamento do público. Sua primeira audiência, anulada por empate do júri, foi transmitida do início ao fim na televisão americana. A segunda, em que a dupla acabou condenada e o juiz proibiu a defesa de reapresentar a maioria das evidências de abuso, não foi ao ar ao vivo, mas teve cobertura massiva da imprensa.
No ano passado, o advogado dos Menendez pediu a liberdade condicional dos irmãos. Ele usa como argumento uma carta recém-encontrada que Erik teria enviado a um primo um ano antes do crime, relatando os abusos que sofria, e o depoimento de um ex-integrante da banda Menudo, Roy Rosselló, que disse ter sido violentado sexualmente pelo pai dos irmãos, José Menendez, quando adolescente. José era um executivo poderoso da indústria da música nos Estados Unidos.
As novas evidências têm suas fragilidades, mas parecem suficientes para Cooper Koch, o intérprete de Erik, que fez uma visita aos irmãos na prisão esta semana, ao lado de outras celebridades. Nicholas Chavez, por outro lado, não os visitou nem quis dizer se isso está nos seus planos.
"A parte mais importante da visita, para mim, foi olhar Erik nos olhos e dizer que acredito nele, que ele tem o meu apoio e que fiz tudo o que pude, no limite do meu poder enquanto um ator, para interpretá-lo da maneira mais autêntica possível", diz Koch.
Os Menendez são vozes ativas pelo direito dos presidiários. Segundo Koch, Erik dá aulas de meditação e oratória, e Lyle está à frente de um projeto que busca revitalizar e construir áreas verdes nos presídios, sob a justificativa de que um ambiente hostil não é favorável à reabilitação.