Enquanto o Nero da era moderna põe fogo na economia mundial, distribuindo taxas de importações para os parceiros comerciais dos Estados Unidos, os países avaliam prejuízos e eventuais ganhos nas relações comerciais. O agronegócio brasileiro também faz suas contas. A avaliação não é simples.
Por ter ficado na lista dos países com taxas mais brandas, os produtos agropecuários brasileiros podem entrar com custo menor nos Estados Unidos em relação aos que tiveram taxas maiores. Esse jogo de ganha e perde vai depender de como cada país afetado vai reagir.
A retaliação dos países taxados pelos Estados Unidos vai provocar nova composição geopolítica dos negócios. A Ásia, região com as maiores tarifas distribuídas pelo governo americano, deverá retribuir não só com taxas, como fez a China, mas também com eventual mudança de parceiro comercial.
Cada produto colocado pelo Brasil no mercado dos Estados Unidos tem suas peculiaridades. O setor já começa com uma perda de renda de 10% e vai ter de se desdobrar em ganhar em escala. Uma piora econômica nos Estados Unidos pode transferir investimentos para outros países, apreciando as moedas locais, inclusive o real. Se isso ocorrer, o efeito pode ser pior que o das tarifas.
As principais receitas brasileiras no setor vêm do café, e parte dos concorrentes do Brasil no mercado americano recebeu taxas maiores que as do Brasil. Dos US$ 6,63 bilhões gastos pelos EUA na importação de café em grão no ano passado, 30% foram no Brasil. A Colômbia foi responsável por 21%. Vietnã, Indonésia, Nicarágua e Alemanha receberão taxas maiores e perderão concorrência com o produto brasileiro e colombiano.
As compras dos Estados Unidos de café torrado e instantâneo atingiram US$ 3,21 bilhões em 2024. A Suíça, que recebeu tarifa de 31%, foi responsável pela colocação de 37% desse produto no mercado americano. O Brasil ficou com 15% de participação, e México e Canadá, com 32%.
A carne bovina recebe uma carga maior. A proteína já pagava uma taxa de 26,4%, e o Brasil é um importante mercado para os Estados Unidos, ao fornecer 13% do que os americanos importam. Entre os dez principais fornecedores, apenas a Nicarágua recebeu taxa superior a 10%.
Os americanos dependem também do suco de laranja brasileiro. O Brasil colocou nos Estados Unidos 37% das exportações desta safra, segundo a CitruBr, e os americanos vieram buscar 50% do que precisam importar aqui no país. As notícias para o mercado brasileiro, porém, não são boas. A tarifa adicional de 10% de Donald Trump deve gerar um impacto de US$ 100 milhões por ano. Esse valor, somado ao tributo já existente, eleva a quantia para US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) anuais.
Nos grãos, o Brasil poderá ter ganho no volume comercializado, mas uma sobra de produtos no mercado americano provoca queda nos preços nas Bolsas de commodities, termômetro para as negociações internacionais. Os EUA exportaram 52,4 milhões de toneladas de soja em 2024, praticamente tudo para países que receberam as maiores taxas. Os asiáticos ficaram também com 30% do milho exportado pelos EUA. Eles podem reagir e mudar de comprador.
Etanol e celulose recebem impacto da nova tarifa, mas são produtos que, por ora, dependem do mercado americano.
R$ 1,1 bi
é para quanto vai o custo anual da nova tarifa de Trump, somada às já existentes, no setor de suco de laranja brasileiro