Opinião - Ronaldo Lemos: Festival em Piracicaba é tipo um SXSW brasileiro

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O Brasil não cansa de surpreender. Há projetos de inovação que vão de biotecnologia a inteligência artificial que vale conhecer. Falo de alguns abaixo. Mas antes vale dizer que uma das coisas mais tristes é ouvir alguém dizer que não somos inovadores.

O Brasil é o país da Embraer, do parque tecnológico de Santa Rita do Sapucaí, do hidrogênio verde (e, antes dele, do álcool combustível) e muito mais. A inovação está entre nós. Só não está bem distribuída.

Por isso é importante prestar atenção no que está acontecendo aqui e agora. Por exemplo, no dia 24 acontecerá o Sthorm Festival, em Piracicaba, interior de São Paulo. Ele é uma espécie de SXSW brasileiro. Obviamente, é bem menor do que o festival de Austin. Mas no conteúdo é igualmente interessante. E diria que até mais ousado que o primo americano.

O Sthorm é um festival único no país. Reúne música, biotecnologia, saúde, pesquisa espacial e ciências. Está na sua quinta edição. As atrações musicais deste ano incluem Macy Gray e Matt Sorum (ex-baterista dos Guns N' Roses). No ano passado, o festival trouxe Billy Idol e integrantes do Deep Purple e do Cheap Trick.

Mas a música é só uma das dimensões. O evento é cheio de palestras e workshops que misturam pesquisadores brasileiros e estrangeiros, com ênfase na área de biotecnologia. A razão é que o Sthorm funciona como a vitrine de um ecossistema mais complexo. Por trás do festival há o objetivo de criar um ambiente para o apoio a pesquisas de ponta em saúde.

Seu fundador, Pablo Lobo, cultivou esse interesse justamente por ter enfrentado desafios pessoais de saúde na família. A experiência fez com que ele criasse a Viral Cure, plataforma global que conecta pesquisadores entre si e com financiadores. O resultado da iniciativa é visível.

Por exemplo, a empresa Mabloc, hoje parceira da USP. Ela desenvolve anticorpos monoclonais para o tratamento de doenças infecciosas como dengue, zika, Covid, febre amarela e outras. Quando Donald Trump, então presidente dos EUA, teve Covid, foi tratado com anticorpos monoclonais, de alto custo. A ideia da empresa é tornar esses tratamentos mais acessíveis.

Ou ainda a startup ImmunoX, que pesquisa macrófagos CAR, células do sistema imune que são modificadas para combater o câncer, incluindo tumores sólidos (CAR significa "receptores de antígenos quiméricos"). É uma das linhas de pesquisa mais promissoras na luta global contra o câncer.

Ou a Biotimize, empresa que desenvolve vacinas e medicamentos a partir de células vivas. O laboratório da empresa fica em Piracicaba e está sendo ampliado para atuar também com proteínas recombinantes. Isso fará dele o único laboratório da América do Sul capaz de oferecer todas as metodologias para criação de medicamentos biológicos, outra tendência em saúde.

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Na edição deste ano será possível ouvir os fundadores de várias dessas empresas, divididos em três trilhos distintos: ciências do planeta, ciências translacionais (campo que busca transformar pesquisa básica em aplicações práticas) e economia criativa (incluindo temas como influenciadores, blockchains e inteligência artificial).

Não é pouca coisa. Com essa mistura, o festival coloca Piracicaba no mapa da vanguarda, com ousadia e originalidade.

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