Opinião - Por quê? Economês em bom português: Por que a má política vai continuar?

No ano de 1978, em uma fala em San Diego, Milton Friedman (1912-2006) disse não acreditar que a solução de todos os problemas seja simplesmente eleger as pessoas certas. "O importante é tornar politicamente vantajoso para as pessoas erradas fazer a coisa certa", concluiu o Prêmio Nobel de Economia. Essa colocação faz sentido, e tem tudo a ver com economia: incentivos importam, mesmo para pessoas que almejam os mais altos cargos públicos. E, dependendo do clima político, a coisa pode ir para o lado errado.

É só observar o domínio exercido por Donald Trump sobre o Partido Republicano nos Estados Unidos. Suas táticas pouco convencionais —envolvendo mentiras constantes, ridicularização dos adversários e pouco apreço às instituições democráticas— fizeram com que líderes do partido inicialmente torcessem o nariz. Muitos se posicionaram publicamente contra Trump.

Mas ficou claro que os eleitores do partido puniriam nas urnas quem desviasse de Trump. Alguns de fato perderam seus cargos, enquanto muitos outros perceberam que a única alternativa para se manter no jogo era abraçar o ex-presidente. O clima político fez o partido incorporar o trumpismo de vez.

As eleições para a Prefeitura de São Paulo foram marcadas por um candidato, Pablo Marçal, que também utilizou métodos ainda menos convencionais para chamar atenção: mentiras, ataques pessoais a rodo e até um laudo médico forjado, que apareceu aos 45 do segundo tempo. Normalmente, em um clima político favorável, Marçal permaneceria um político nanico. Mas conseguiu crescer, e ajudou a transformar em caos a corrida eleitoral, com pouca discussão de propostas e muita violência, verbal e física.

O ponto é que o eleitorado recompensou esta estratégia. Mesmo em um partido pequeno, com poucos recursos e tempo de TV, o candidato quase conseguiu chegar ao segundo turno. Ainda que seja punido e perca seus direitos políticos, Marçal já mandou uma mensagem a políticos que estejam pensando em adotar uma postura semelhante: ela traz retorno político.

Ou seja, a lama na política deve continuar.