Opinião - Por quê? Economês em bom português: A economia do lixo espacial

há 3 meses 5

Foguetes, satélites, viagens ao espaço —parece um assunto muito complicado. "Rocket science", como os americanos tendem a denominar qualquer tópico muito complexo. A verdade é que avanços na ciência e tecnologia têm facilitado imensamente nossa vida —vide a queda nos custos de comunicação propiciados pela expansão da rede de satélites.

Mas isso traz um potencial custo, que já está se tornando um problemão: o lixo espacial. Coisas como restos de foguetes, satélites inoperantes, equipamentos abandonados por humanos estão poluindo a órbita da Terra, a ponto de cientistas estarem preocupados com a possibilidade de não conseguirem enxergar lugares mais distantes no espaço. Além disso, há o risco de os detritos atingirem outros objetos no espaço, ou adentrarem a atmosfera e caírem nas nossas cabeças.

Ainda que o assunto seja de fato complicado, conceitos muito simples de economia (que ensinamos para alunos de primeiro ano de graduação) ajudam a entendê-lo. Voltemos ao velho exemplo do lago de peixes, em que há diversos pescadores, mas não há um dono —no linguajar do economista, os direitos de propriedade não são bem definidos.

O incentivo de cada pescador é pegar o máximo de peixes que puder. Afinal, se ele não pescar, outro o fará. Mas com todos os pescadores agindo da mesma forma, o resultado é desastroso: eles rapidamente esgotam os peixes do lago. Economistas denominam esse problema de tragédia dos comuns, e ele advém do fato de não haver direitos de propriedade claramente estabelecidos. Em outras palavras, não há um dono ou donos para o lago.

Se um pescador fosse dono de um pedaço do lago (e houvesse instrumentos legais que garantissem que só ele poderia extrair os peixes dali), ele teria incentivos à preservação. Afinal, se os peixes se esgotassem rapidamente, antes que se reproduzissem, sua renda futura seria comprometida.

Algo semelhante acontece com a órbita da Terra. É muito difícil estabelecer direitos de propriedade sobre o espaço. Países e empresas privadas têm então um incentivo adicional a lançar objetos, pois parte do custo (que tem a ver com lixo espacial) não é "pago" por eles, sendo compartilhado com a coletividade.

E a situação tende só a piorar no futuro, dada a nossa necessidade cada vez maior de comunicação, a expansão da exploração espacial e os custos mais baixos de lançar foguetes (que agora podem ser reutilizados).

No futuro, governos terão de se coordenar para disciplinar a quantidade de objetos lançados no espaço, levando em conta a dificuldade em estabelecer direitos de propriedade nesse caso. Mas esse parece um caso perdido —haja vista nossa incapacidade de entrar em acordo sobre metas mínimas de emissão de gases de efeito estufa, por exemplo.

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