Quando não estava bêbada, pedindo um "mambo caliente" ao DJ da boate, Heleninha Roitman, personagem emblemática de Renata Sorrah na novela "Vale Tudo", era uma artista plástica comprometida com sua obra, pinturas que, já dizia sua mãe, a vilã mais emblemática ainda Odete Roitman, de Beatriz Segall, precisavam ser vendidas em São Paulo, "where the money is", ela frisava em inglês mesmo.
Sorrah, por mais deslumbrante atriz que é, não era a autora dos quadros que apareciam nas cenas da trama de Gilberto Braga. Na época, seus trabalhos eram pintados por Wanda Pimentel, artista central da nova figuração brasileira, movimento comparado à arte pop americana. Eram interiores domésticos de cores intensas atravessados por uma forte carnalidade feminina, a mulher senhora de seu lar e de seu corpo.
Agora, na nova versão da novela, o diretor Paulo Silvestrini escolheu os trabalhos da artista Stella Margarita, uruguaia radicada no Rio de Janeiro, onde morreu há dois anos, para ser a expressão visual da nova Heleninha Roitman, papel da atriz Paolla Oliveira no remake.
Quase desconhecida no circuito artístico do país, com participações em salões e feiras aqui e ali, Margarita é autora de pinturas cheias de climão, figuras perdidas entre o medo e o desejo em turbilhões enevoados, plúmbeos. Talvez indique algo dos rumos da nova Heleninha Roitman que tantos aguardam para conhecer.