Opinião - Plástico: O mundo pega fogo mais uma vez, na nova Bienal de Arquitetura de São Paulo

há 1 mês 3

Não está fácil para os terráqueos. Down, down, down na high society, de uísques e charutos tão sedutores, já é coisa velha. O buraco é muito mais embaixo. Depois de um Panorama da Arte Brasileira, deslocado do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, para o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, o MAC, do outro lado da avenida Pedro Álvares Cabral, por causa de uma reforma em tempo ruim na marquise do Ibirapuera, vem a chance de uma nova reflexão, a Bienal de Arquitetura de São Paulo, que volta à Oca de Oscar Niemeyer, no maior parque paulistano.

Explico. O Panorama, tradicional mostra do MAM, este ano se batizou "Mil Graus". É uma reflexão bonita, sexy, quase butique, com uma expografia que lembra uma loja da Comme des Garçons, de uma Marni, de uma Celine, para falar do nosso desastre mais agudo, o climático, da beira do precipício, com obras de uma polidez deslizante, de uma aspereza assustadora. Já a mostra de arquitetura, do outro lado da via expressa, se deu o nome de "Extremos", para refletir sobre arquiteturas para um mundo quente.

Essas são metáforas infinitas. Falamos de calor, muito calor, de um mundo em chamas. Serão mil graus? Não importa. Os nossos arquitetos estão às voltas com pressões que vão da burocracia política ao descalabro do asfalto quente.

Como todo projeto de uma mostra ainda não construída, visto em primeira mão pela coluna, há um grau de utopia e ingenuidade na coisa toda. Entre as questões levantadas pelo time liderado por Renato Anelli, um dos maiores defensores do legado da arquitetura modernista no país, há obviedades incontornáveis, como a ideia de conviver com as águas e preservar as florestas. Isso é evidente, mas talvez mais sangue nos olhos seja a parte que discute reformar mais para construir menos.

São Paulo é um laboratório visto dos dois ângulos desse desastre urbanístico. Se, por um lado, vemos retrofits reluzentes surgirem dos escombros sujos das ruínas do centro paulistano, por outro vemos aberrações construídas do zero para servir o mesmo propósito, nas periferias e nas zonas centrais. É um despropósito que não se explica numa cidade com tanto déficit de moradias e ao mesmo tempo um excesso de prédios vazios, tanto públicos quanto imóveis devedores contumazes de impostos que já deveriam ter sido apropriados para esse fim por um poder público mais do que letárgico. Nossa arquitetura quente é um longo banho-maria com final infeliz.

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