O Instituto de Arquitetos do Brasil recebe de volta à sua sede, prédio desenhado por Rino Levi no coração paulistano, o móbile "Viúva Negra", de Alexander Calder. Recém-restaurada, uma das peças mais importantes em qualquer acervo do país, avaliada em nada menos que R$ 174 milhões, ela coroa um ambiente com móveis de Gregori Warchavchik, Joaquim Tenreiro, Martin Eisler e Grete Jalk, joias do mobiliário modernista que nos transportam direto para a virada da década de 1950 para 1960.
Toda a seleção das peças reflete como o ambiente foi pensado por Levi na época da inauguração do prédio na região da República onde também funcionou, até a sua morte, o escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. O diretor da Associação Design e Mobiliário Moderno, Jayme Vargas, usou como referência fotografias da época para juntar o conjunto de móveis. Os dois sofás de Warchavchik, agora reeditados pela Dpot, a mesa lateral de Eisler, a mesinha de centro de Tenreiro e as duas poltronas de Jalk são avaliadas em R$ 250 mil.
O espaço todo, aliás, passa por um processo de restauro, que envolve o reparo dos caixilhos e a recolocação das pastilhas azuis na fachada. Ao todo, o IAB pretende gastar cerca de R$ 1,3 milhão na obra. Em tempo, luta para manter a escultura de Calder no espaço, apesar do custo anual de R$ 200 mil com os cuidados com a peça.
ALÉM DA BANANA O resultado da temporada de outono dos leilões em Nova York superou as expectativas, embalado pela ultramidiática venda de "The Comedian", a banana presa com fita adesiva à parede do artista italiano Maurizio Cattelan, por US$ 6,2 milhões, ou R$ 36 milhões.
Também vimos o recorde em leilão do surrealista belga René Magritte, com seu "L'Empire des Lumières" vendido por US$ 121,2 milhões, ou R$ 703 milhões, e uma tela do impressionista Claude Monet, "Nymphéas", uma das várias visões das plantas em seu jardim em Giverny, na França, vendida por US$ 65 milhões, ou R$ 377 milhões.
É um sinal de alívio para o mercado global que assistia a uma queda livre nas vendas. Agentes de mercado atribuem a possível recuperação à eleição de Donald Trump à Casa Branca, que promete uma redução na taxa de juros e dos impostos e destrava os fundos dos super-ricos para compras mais arriscadas no mercado de arte.
HASHTAG Falando em impostos, o mercado brasileiro anda apreensivo com o plano de reforma tributária agora em análise no Congresso, que beneficia alguns setores culturais, mas deixa as artes plástica de fora. No último final de semana, importantes galeristas e artistas do país publicaram nas redes sociais uma mensagem "em defesa das artes visuais no Brasil", inaugurando a hashtag #ImpostoJustoParaArte.
Na forma em que está redigida a reforma, obras de arte no país podem ser taxadas em até 27%, o que geraria ainda um efeito cascata em toda a cadeia de produção. Na visão de agentes de mercado, isso isolaria o Brasil do resto do mundo. Nos principais mercados, obras de arte têm um regime especial de tributação, para facilitar sua circulação —nos Estados Unidos, o maior mercado do mundo, não há tributação sobre a importação de obras de arte; na França, o maior mercado da União Europeia, por exemplo, o imposto é 5,5%; no Reino Unido, é 5%.
ORA, ORA Mais uma galerista do Rio de Janeiro desembarca em São Paulo. Carollina Carreteiro, uma das antigas sócias da Nonada, espaço carioca que vem revelando nomes talentosos como a fotógrafa Melissa de Oliveira, inaugura nesta semana um novo espaço no coração da capital paulista.
O novíssimo Ora é uma espécie de galeria com regime diferente, em que artistas levam vantagem em cada venda, 60% para eles e 40% para a casa. Um de seus sócios na nova empreitada é o badalado fotógrafo Gleeson Paulino. A Ora vai ocupar dois espaços na rua Líbero Badaró, um deles o salão onde os modernistas da Semana de Arte Moderna de 1922 costumavam se reunir.