Opinião - Maurício Stycer: É tempo de tributos

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Na dura competição com as grandes plataformas estrangeiras de streaming, a Globo vem fazendo uma enorme ginástica para oferecer conteúdo que possa ser chamado de diferenciado. Uma das armas mais valiosas que dispõe neste campo de batalha é o seu acervo, o que explica o ininterrupto resgate de novelas antigas, incluindo algumas que estão disponíveis apenas de forma fragmentária.

Um outro caminho explorado recentemente é o de homenagens a grandes figuras que trabalharam na emissora ao longo de décadas. É uma série chamada "Tributo", e já conta com nove episódios, dedicados a Léa Garcia, Ary Fontoura, Lima Duarte, Manoel Carlos, Laura Cardoso, Zezé Motta, Fernanda Montenegro, Boni e, agora em janeiro, Renato Aragão.

Há um nítido recorte etário no projeto; a maioria deste elenco estelar tem mais de 90 anos e ninguém tem menos de 80. O lançamento da série foi antecipado, em 15 de agosto de 2023, para homenagear Léa Garcia, morta naquele dia.

Com a série, a Globo talvez espere atenuar críticas que tem recebido sobre a dispensa de boa parte do seu banco de talentos. Com um time hoje reduzido e os orçamentos apertados, a emissora tenta dizer que reconhece os profissionais que tiveram participações destacadas em novelas, séries e programas ao longo de décadas.

A Globo também pode alegar que compensa, de alguma forma, a falta de oportunidades para atores mais velhos em suas novas produções. É frequente ouvir reclamações de profissionais com mais de 70 anos sobre a ausência de papéis em teledramaturgia.

Com custo de realização baixo, os episódios, de um modo geral, se estruturam em torno de entrevistas com o homenageado, resgate de imagens dos anos gloriosos e depoimentos de colegas. O tom é sempre de exaltação, admiração e respeito.

Um subproduto do documentário, o tributo é a garantia de que o retrato exibido será sempre positivo. Para o fã, o efeito é de emoção e, de certa forma, de reconforto, com a mensagem implícita de que aquela trajetória foi retilínea e vitoriosa. "Feel good TV", como dizem os americanos.

Esse tom, que ignora os percalços, erros e fracassos, é o que diferencia o tributo de um documentário de caráter biográfico ou uma grande reportagem.

O tributo é da mesma família de atrações que fizeram história na televisão, como "Essa É a Sua Vida", sob o comando de J. Silvestre, e o "Arquivo Confidencial", que Fausto Silva celebrizou em seu Domingão.

Alguns raros episódios, possivelmente por causa da personalidade dos homenageados, fogem um pouco do tom encomiástico. Boni abre ligeiramente a guarda e exibe um retrato um pouco menos autocelebratório do que de costume. Ele surge de bengala na cena de abertura e, em companhia de Daniel Filho, fala não apenas de seus sucessos, mas também de seus métodos questionáveis de comando.

"Quando eu falar que seu produto está uma merda, não quer dizer que você seja. Se você fosse, eu teria demitido você. Eu só quero que conserte o seu produto. Não é do meu estilo, era da necessidade do trabalho. Diria para você que era uma deformação profissional. Mas a gente tinha que sair aos gritos", diz Boni.

Já Fernanda Montenegro parece dirigir o programa dedicado a ela. Lê longos textos que dizem respeito ao seu ofício, põe o marido já morto, Fernando Torres, no centro da sua história e dialoga de maneira provocativa com a filha, Fernanda Torres.

O episódio mais recente tem redação de Nathalia Oliveira, direção artística de Antonia Prado, direção de Matheus Malafaia e Marcos Nepomuceno.

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