Opinião - Marcia Castro: O impacto da violência na atenção primária

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A violência afeta a sociedade de várias formas: interrompe vidas, destrói sonhos, desestrutura famílias, compromete o desenvolvimento infantil, afeta negativamente a saúde mental.

Atos de violência interferem na rotina escolar e em outros tantos serviços, tais como saúde, comércio e transporte. A violência pode ainda comprometer o direito de ir e vir em alguns territórios controlados por fações criminosas.

Segundo o Atlas da Violência de 2024, 62 jovens entre 15 e 29 anos morreram por dia, em média, em 2022 no Brasil. A violência contra a juventude reduz o potencial de capital humano e, portanto, reduz o crescimento econômico.

Em 2023, 13 das 50 cidades com maior taxa de homicídio por 100 mil habitantes no mundo eram brasileiras. Dessas, 9 estão localizadas na região Nordeste e 4 na região Norte. De fato, o Atlas da Violência de 2024 mostra que a região Nordeste é a mais violenta do Brasil.

Além dos homicídios, há a violência contra mulher, negros, LGBTQIAPN+, pessoas com deficiência e indígenas, crimes de rua, furtos, roubos e estelionatos.

Esses atos de violência se sobrepõem em territórios e comprometem diretamente o serviço de saúde.

Por exemplo, missões à terra yanomami em janeiro de 2023 revelaram que em sete polos-base as unidades de saúde não estavam funcionando por falta de segurança. Prédios foram destruídos, profissionais de saúde tiveram que deixar a área e equipamentos e medicamentos foram roubados. Isso deixou mais de 5.200 yanomamis sem acesso à saúde.

Além disso, bairros com alta taxa de homicídio têm maior incidência de vários agravos. Em Fortaleza, por exemplo, um aumento de 10 homicídios por 100 mil habitantes está associado a um aumento de 6% na incidência de dengue. A violência afeta o trabalho dos agentes, que por vezes são impedidos de realizar o controle vetorial.

Foi visando entender a influência da violência na saúde e na rotina de trabalho dos agentes comunitários de saúde na região mais violenta do Brasil que pesquisadores entrevistaram agentes em 4 capitais nordestinas (Fortaleza, João Pessoa, Recife e Teresina) e em quatro cidades do interior do Ceará (Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Sobral).

O resultado da pesquisa está sendo lançado no Atlas da Violência na Perspectiva dos Agentes Comunitários de Saúde. Mapas de cada cidade, detalhados por bairro, mostram a percepção e a experiência com violência no território e na rotina de trabalho, bem como os efeitos na saúde mental.

O atlas mostra que tanto a qualidade como a cobertura das ações promovidas pelos agentes são comprometidas pela violência. Os custos para a população e para o sistema de saúde são enormes.

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Tanto no caso dos yanomamis como no dos agentes comunitários de saúde, fica clara a importância de ações conjuntas entre diferentes setores, tais como saúde e segurança pública. Não há como a saúde, sozinha, resolver os desafios impostos pela violência.

No momento em que se discutem cortes no Orçamento, a questão é como otimizar ações com os recursos existentes. Como garantir que parte do investimento na saúde não seja perdido pelos desafios resultantes da violência.

Sem colaborações verdadeiramente intersetoriais não há como otimizar.

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