Nem Trump, nem Kamala. Se o tema for esquetes de imitação política no humorístico Saturday Night Live, o vencedor destas eleições é... Joe Biden.
O atual presidente americano, aquele forçado a desistir da campanha por seu próprio partido e seus próprios eleitores, ganhou uma representação primorosa nesta temporada do mais longevo humorístico americano, do tipo que imortaliza um personagem e vale ser vista até por gerações futuras.
Após várias tentativas frustradas de encontrar um intérprete para o democrata, que passaram até pelo comediante Jim Carrey e se sucedem desde que Biden era vice de Obama, a 50ª temporada do SNL convocou o veterano Dana Carvey para tarefa.
Carvey, que se tornou conhecido pelo público mais amplo nos anos 1990 no papel de Garth em "Quanto Mais Idiota Melhor", ao lado de Mike Myers, já tinha no portfólio outra imitação popular de um presidente, a de George Bush pai, também nos anos 1990. Andava meio sumido das telas, fazendo podcast com o também ex-SNL David Spade, no qual entrevistam colegas de ofício, até voltar como Biden.
Quem acompanhou a eleição que culminou nesta terça (5) na vitória de Donald Trump vai apreciar o trabalho de Carvey nos cinco primeiros episódios da temporada e no especial eleitoral da última terça (5) —é esperado que ele ressurja no programa deste sábado (9), a ver se permanecerá.
Sua interpretação vai muito além dos trejeitos e do modo de falar do presidente e captam um senso de perplexidade misturado a algum recalque e certa desconexão com o momento. Como descreveu o New York Times, é como se ele revelasse aos espectadores o que Biden está sentindo.
Os humoristas americanos, como os brasileiros, têm lado na política —e ele é, majoritariamente, democrata/progressista. Isso não os exime, no entanto, de satirizar todos, exceção feita talvez a um primeiro momento de hipnose coletiva no início do governo Obama.
O SNL chegou a levar para o palco no último sábado (2) a própria Kamala Harris para contracenar com seu alter ego no programa, Maya Rudolph, em um esquete em geral positivo sem poupar de ironias a candidata.
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Trump não apareceu desta vez, o que provocou reclamações de seus simpatizantes. Mas apresentou uma vez o programa em 2015, quando era pré-candidato e parte da imprensa americana ainda tratava sua postulação como uma blague para amplificar a fama (o republicano também havia apresentado o programa uma vez em 2004, como celebridade).
O SNL tem sofrido com a perda de audiência, embora seu formato seja facilmente adaptável aos vídeos curtos da internet, e patinado para azeitar um elenco com o mesmo carisma e talento como os da época em que Carvey ou Rudolph integravam a trupe. As eleições parecem ter oferecido à produção uma nova oportunidade, sobretudo nesta recém-iniciada 50ª temporada, com estrelas de seu passado.
Além do Biden de Carvey e da Kamala de Rudolph, e de Andy Samberg como o segundo-cavalheiro Doug Emhof, encontraram um bom Tim Walz (o vice de Kamala) em Jim Gaffigan e um excelente Donald Trump em um ator fixo do elenco, James Austin Johnson, que incorporou a voz do presidente eleito e seus maneirismos de maneira quase sobrenatural, além de inserir improvisos brilhantes.
Ao menos nessa versão a gestão Trump terá graça.
Os episódios da 50ª temporada do SNL são exibidos ao vivo no Universal+, à 1h30 de domingo, e ficam depois disponíveis sob demanda