Após decisão liminar que suspendeu as redes sociais de Pablo Marçal, as menções ao candidato atingiram pico histórico nos grupos de WhatsApp.
Na disputa para a Prefeitura de São Paulo, as campanhas estão criando estratégias de como enfrentar o crescimento de Marçal nas pesquisas de intenção de voto. Em termos de comunicação, o desafio se inicia no próprio formato da legislação eleitoral vigente, que cria desigualdades nessa competição.
Um candidato, assim como Marçal, que inicia a campanha com mais de 12 milhões de seguidores só no Instagram, tem uma plataforma muito potente, ainda mais se consegue usar a própria força dos algoritmos a seu favor para potencializar a disseminação de seu conteúdo.
Isso altera a competição de maneira substancial, uma vez que durante o período eleitoral, as regras restringem as maneiras que as campanhas possuem de levar sua mensagem ao público.
Além do tempo de rádio e televisão na propaganda eleitoral, as campanhas majoritárias contam com os debates promovidos pelos veículos de comunicação.
Acontece que os influenciadores dispõem de canais adicionais de comunicação que são as suas redes sociais. E essa competição se torna desigual na medida em que não há nenhuma regra sobre como essas pessoas aumentaram o número de seguidores em período não eleitoral.
Portanto, se determinada pessoa vislumbra uma candidatura para daqui a quatro anos e passa os próximos três investindo milhões de reais no crescimento de suas redes sociais, chegará na eleição pretendida com uma máquina de comunicação extremamente potente.
Ao chegar ao período eleitoral, todas as candidaturas estão sujeitas às regras de financiamento e divulgação de conteúdo, mas a desigualdade já está criada e não prevista em legislação eleitoral.
Isso altera também a forma como as campanhas desenham suas estratégias. Os vídeos cortados e editados para Instagram, Tik Tok, Youtube, e que também são compartilhados nos grupos de mensageria como WhatsApp e Telegram, se tornaram um ativo fundamental.
Se o público não conseguir assistir a um debate transmitido ao vivo na televisão, conseguirá facilmente encontrar o vídeo na íntegra na internet, mas com duas ou três horas de duração. Por outro lado, as campanhas se esforçam para recortar e editar os trechos que mais favorecem a si próprias. Nesse sentido, leva vantagem quem tem maior potencial de alcance nas redes.
Nos dados de redes sociais analisados pela Palver, é possível ver que Marçal tem relevância em todas as fontes de dados, considerando o número de menções. E a principal estratégia de campanha de Marçal até aqui foi direcionar as pessoas para seu Instagram. Em debates, entrevistas e discursos, indicava seus canais oficiais para que ampliasse seu número de seguidores.
No último sábado (24), após ação movida pela campanha da candidata Tabata Amaral (PSB), a Justiça determinou, em decisão liminar, o bloqueio das redes sociais de Marçal no Instagram, Youtube, Tiktok, site oficial, X (ex-twitter) e Discord até o final da campanha.
Na decisão, o juiz indicou que Marçal cometeu abuso de poder econômico por remunerar pessoas para que fizessem cortes de seus vídeos durante o período eleitoral.
No monitoramento da Palver, o número de menções ao candidato nos grupos públicos de WhatsApp chegou ao pico histórico após a decisão, superando as menções a Lula e Bolsonaro.
Em termos políticos, o potencial de Marçal tem criado preocupações na família Bolsonaro, que vê ameaçada sua hegemonia no campo da direita. Ao longo da semana, o candidato foi atacado por Eduardo, Carlos e ironizado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A própria ascensão de Jair Bolsonaro se deve imensamente às redes sociais e ao ecossistema digital. Esse conflito dentro da direita expõe a efetividade do método utilizado na conversão do eleitorado.
Nesse sentido, a discussão que precisa ser realizada é sobre como esses poderosos canais de comunicação são construídos fora do período eleitoral, visto que criam uma desigualdade competitiva relevante entre as candidaturas e a legislação eleitoral não consegue mitigar essas diferenças.