Irritado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vociferou contra um carro de som na manifestação, e cortes do ocorrido circularam nas redes sociais monitoradas pela Palver.
No sábado (7), aconteceu na avenida Paulista um ato convocado por Silas Malafaia e pelo ex-presidente cujo principal mote era o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes.
O chamado para a manifestação vinha sendo aquecido nas redes sociais desde que mensagens de assessores de Moraes foram publicadas em reportagens da Folha. Desde então, parlamentares e apoiadores de Bolsonaro usaram o tema como bandeira para convocar a população às ruas.
Para estimular ainda mais o debate, Elon Musk entrou em confronto direto com Moraes e decidiu que iria desrespeitar decisões do ministro, culminando na proibição do acesso ao X (ex-Twitter) em território nacional.
O momento em que esse embate aconteceu foi preciso para que os bolsonaristas pudessem elevar o tom contra o ministro e usar a situação para estimular o comparecimento dos apoiadores à manifestação convocada para 7 de Setembro na avenida Paulista.
Nesse ínterim, do momento da convocação até a realização do ato, um fato novo criou uma perturbação no sistema bolsonarista, e que havia funcionado nos últimos anos: o surgimento de Pablo Marçal (PRTB) no cenário político e dentro do campo da direita.
Com a costura política nas eleições municipais, Bolsonaro firmou apoio ao atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), a despeito de parte da direita aderir à candidatura de Marçal, que começou a crescer nas pesquisas de intenção de voto.
No monitoramento das redes sociais realizado pela Palver, observa-se que parte do bolsonarismo abraçou a candidatura de Marçal desde o primeiro momento, colocando o ex-presidente em uma situação delicada.
Na comunicação, mensagens com sentidos opostos produzem uma incoerência perceptível aos destinatários. Essa duplicidade foi observada nos grupos públicos de WhatsApp analisados pela Palver, uma vez que Bolsonaro apoia formalmente Nunes, mas sabe que o prefeito não representa a essência desse movimento de direita despertado nos últimos anos.
Marçal se aproveitou da situação e deslocou, através de seus posicionamentos, Bolsonaro ao centro, capturando parte da direita antissistema que preza por valores e princípios agora representados pelo empresário, tal como independência, família e prosperidade.
Na manifestação no 7 de Setembro, observou-se tanto Bolsonaro como seus apoiadores com o mesmo discurso dos atos convocados anteriormente, apenas com uma leve modificação para acomodar Elon Musk, seja em citações diretas ou em trechos do discurso ou camisetas com frases em inglês.
Logo no início do discurso de Bolsonaro, era possível ouvir sons e ruídos que mobilizaram uma parcela do público presente. O ex-presidente ficou muito incomodado e chegou a pedir que sabotassem os cabos da bateria do carro de som que competia com seu trio elétrico.
Em uma fala dura, Bolsonaro, sem citar nomes, chamou de "picareta", "canalha" e "vagabundo" o autor das perturbações sonoras produzidas, argumentando que "quer fazer política, vá fazer em outro lugar", enquanto conduzia seu próprio ato político.
Nas redes sociais, principalmente nos grupos públicos de WhatsApp, diversos cortes circularam nos grupos de direita creditando à presença de Marçal a comoção que incomodou Bolsonaro. Ao ser barrado no trio elétrico, o candidato mobilizou uma parcela das pessoas presentes ao seu entorno.
Nos vários vídeos sobre a manifestação que circulam nas redes sociais, percebe-se uma quantidade significativa de pessoas usando o boné de apoio ao Marçal. Seja de forma orgânica ou estimulada pela campanha, o simbolismo transmitido nas imagens é importante.
No monitoramento da Palver, pode-se observar que essa disputa no campo da direita está aberta e pode ter seus efeitos sentidos já neste ciclo eleitoral. Essa queda de braços pode resultar em um novo fenômeno social diferente do que trouxe o bolsonarismo até aqui.