Opinião - Elio Gaspari: PF não é uma PM, e doutor Andrei se incomoda muito por pouca coisa

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O diretor da Polícia Federal, doutor Andrei Rodrigues, vem se incomodando muito por pouca coisa. Processa um deputado e excluiu um repórter de suas rotineiras conversas confidenciais, nas quais fala o que quer sob o compromisso de não ser identificado.

Pode-se suspeitar que sua zanga venha de reportagens que mostram lacunas nas mil páginas de relatórios da PF conhecidos sobre a armação do golpe de 2022/2023. O trabalho da Federal foi minucioso e contundente em muitos aspectos. Porém seu ponto fulcral, as ações de 15 de dezembro, com a possibilidade de atentados contra Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, é ralo.

Nas palavras da representação da PF do dia 19 de novembro: "Pelo que se obteve, as ações desse grupo tiveram seu ápice no dia 15 de dezembro de 2022, data em que, possivelmente, seria realizada a Prisão/Execução do Ministro Alexandre de Moraes na cidade de Brasília".

Possivelmente?

Nesse dia, Lula estava em São Paulo. Os relatórios demonstraram que um agente da PF campanava o presidente eleito. Ele está preso e foi indiciado, mas falta ir adiante. O plano "Punhal Verde Amarelo", impresso no Planalto pelo general da reserva Mario Fernandes, falava em decapitar a chapa eleita. Lula poderia ser envenenado numa de suas idas a hospitais. Poderia.

Tem gente que acredita no envenenamento do papa João Paulo 1º em 1978. Pelo menos três livros e um filme ("Godfather III") sustentam essa teoria. Prova? Nenhuma.

A reação policial a críticas é coisa da PM de São Paulo, que intimida velório de criança.

Outro pilar da denúncia é a minuta do golpe, que seria dado a partir de um decreto do presidente Jair Bolsonaro instituindo o estado de defesa. A minuta existe e foi discutida, mas não foi assinada.

Construindo-se a acusação a partir do pressuposto de que teria sido assinada, cai-se a lugar nenhum. Já uma acusação construída a partir da redação da minuta e da sua discussão dá mais trabalho, desde que deixe o julgamento aos juízes.

Os indiciados serão defendidos nos tribunais e cada inconsistência da acusação será uma chave para garantir a impunidade de golpistas que, ao longo do anos, anunciavam publicamente suas intenções.

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