No próximo dia 12, Lula descerá em Pequim. Poucas vezes uma viagem presidencial foi tão favorecida e ela tem tudo para dar certo. Tratando-se do maior parceiro comercial do Brasil, quanto mais certo der, melhor. Essa será a quarta visita de Lula à China. Dilma Rousseff foi lá em 2011.
As visitas de brasileiros à China e de chineses ao Brasil sofrem com a verborragia nacional. Na primeira viagem de Lula, saiu de sua comitiva a informação de que seria discutida a cooperação no setor de energia nuclear. Os chineses assustaram-se.
Quando o presidente Hu Jintao visitou Brasília, em 2004, um intérprete inexperiente traduziu fluxo comercial (maoy) como se fosse volume de investimentos (touzi). Pareceu que ele anunciava iniciativas da ordem de US$ 100 milhões. Os chineses fizeram uma discreta correção.
Quando Dilma Rousseff foi a Pequim, sua comitiva anunciou que a empresa Foxconn investiria US$ 12 bilhões no Brasil, fabricando equipamentos da Apple e gerando 100 mil empregos. Passados quatro anos, gerou 5.000, de baixa qualificação.
Em 2015, o primeiro-ministro Li Keqiang veio a Brasília e saiu do Planalto a informação de que a China financiaria a construção de uma ferrovia até o oceano Pacífico. Lorota nacional.
Lula ainda nem embarcou e já tem gente falando que os chineses comprarão bilhões de dólares do agro brasileiro. No lado chinês, fala-se pouco e calcula-se muito.
No mundo das compras e vendas reais, as montadoras de veículos brasileiros pedem que seja antecipada a elevação de 25% para 35% da tarifa de importação para os carros elétricos. Razão: o mercado brasileiro teve um pico de entrada de carros chineses. As montadoras têm pressa, porque sabem que depois do embarque de Lula, essa elevação fica mais difícil. Antes, envenenará a agenda.
A ideia de que os chineses estão prontos para comprar seja o que for é um velho mito e os americanos acreditaram nele. Deu no que deu.
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Energia mais barata
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou um pacote típico da busca de Lula 3.0 pela popularidade perdida. Pretende baixar as contas de luz de 60 milhões de pessoas e zerar as tarifas de 16 milhões de famílias carentes.
Junto com o benefício, o governo pretende atender a um antigo pleito do mercado tradicional, reduzindo os estímulos à geração de energia solar e eólica.
O atraso ganhou mais uma. Afinal, uma coisa pouco tem a ver com a outra.