O pronunciamento recente de Donald Trump, que sugere seguir o exemplo de países como Brasil e Índia na imposição de tarifas elevadas, ignora um ponto crucial: tarifas não trazem prosperidade. Elas nascem do lobby de setores ineficientes, penalizam os consumidores e desencadeiam um ciclo global de barreiras que empobrece a todos, minando a eficiência econômica e reduzindo a variedade e a qualidade dos produtos disponíveis.
No caso do Brasil, a mentalidade de substituição de importações moldou a política industrial por décadas. Impostos altos e barreiras complexas foram usados para proteger setores considerados estratégicos. O resultado não foi o esperado: poucos segmentos realmente cresceram de forma sustentável. Ao contrário, os consumidores pagaram mais caro por produtos nacionais e importados. A indústria nacional, muitas vezes subsidiada, não ganhou o dinamismo necessário para competir. Ao isolar-se do mundo, não desenvolveu capacidade de inovar e agregar valor. Enquanto isso, a economia global avançava, ampliando horizontes e oportunidades.
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O discurso da direita americana, hoje capitaneada por Trump, também abraça narrativas protecionistas. Sob a justificativa de conter a China e defender o Ocidente, a política tarifária torna-se um instrumento de poder. Porém, essa estratégia não fortalece a cadeia produtiva doméstica de forma natural. Em vez disso, cria incentivos perversos: preços internos sobem, setores ineficientes se acomodam, o país perde agilidade. Nessa dinâmica, quem sofre é o cidadão comum, privado da diversidade de bens a custos mais acessíveis.
A abertura comercial amplia escolhas, expõe empresas à concorrência e incentiva a busca por eficiência. Países que reduziram barreiras e se integraram a cadeias globais ganharam em produtividade, inovação e bem-estar. O próprio Brasil, quando ensaiou abrir-se um pouco mais, experimentou redução de preços e estímulo ao investimento. Mesmo assim, a pressão de grupos que temem perder privilégios é forte. E o medo da desindustrialização, muito comum no debate local, tem sido explorado para manter o status quo.
O exemplo brasileiro, de longa data, ilustra o que pode acontecer nos Estados Unidos se a retórica protecionista prevalecer. Ao se alinhar a economias que dependem de tarifas para sobreviver, os EUA arriscam comprometer sua reputação de liderança no comércio global. Pior, abandonam um histórico de pautas voltadas à integração econômica, enfraquecendo o próprio sistema de regras multilaterais que ajudaram a construir.
Dois terços dos americanos acreditam que os planos tarifários de Donald Trump apenas aumentarão os preços, caso sejam implementados. No Brasil, houve forte reação quando o governo decidiu tributar encomendas internacionais de baixo valor. O cidadão sabe, instintivamente, que a proteção artificial resulta em preços altos, menor variedade e menos qualidade. Mas infelizmente, enquanto lobbies setoriais conseguem se formar para pleitear pelo protecionismo, os consumidores não tem quem os represente em prol de menos tarifas.
Manter um sistema fechado é ignorar o interesse público em favor de um conjunto restrito de produtores acostumados a operar sem concorrência real. Assim, ao contrário do que
Trump sugere, tarifas elevadas não criam prosperidade genuína. Elas erguem muros comerciais, minam a credibilidade externa, penalizam a sociedade. Defender a abertura não significa submeter-se sem critérios, mas buscar integração com equilíbrio e planejamento. Quem ganha é o consumidor, os setores da economia mais eficientes e o próprio país, que se consolida como participante ativo e competitivo na economia global.