Opinião - Claudio Manoel: Tudo vai dar certo ou errado, não necessariamente nessa ordem

há 1 dia 1

Dia desses, a bordo de um Uber vespertino, estava pensando em nada ou nem isso, quando o eloquente representante do trabalho precarizado comentou em voz (bem) alta: "E tem que ser pessimista mesmo. Qual a razão para ser otimista?".

Mesmo sabendo que a conversa era entre ele e a resenha que emanava do rádio, falando sobre o último fiasco daquela que foi a "Seleção", mas que já deveria ser chamada de "selecinha", resolvi interagir com parcimônia e objetividade: "Nenhuma razão. Esse time é uma bosta!".

Meu breve comentário serviu para desencadear nele uma empolgada dissertação sobre o atual "ex-crete canarinho" e o recente esculacho sofrido, que, além de tudo, conseguiu o impossível: inflar ainda mais o ego dos argentinos.

Acontece que sou um sequelado do 7x1. Desde então não consegui recuperar uma fração do interesse que já tive. Hoje, para mim, o time da CBF está no mesmo lugar da F1: duas paixões nacionais que não são mais.

Enquanto ele falava e eu já não mais ouvia, fui viajando na outra rivalidade citada en passant ali, um outro clássico confronto entre dois adversários históricos: Otimismo X Pessimismo.

Esse embate ancestral já ocupou o tempo e a cabeça de grandes pensadores e até de estadistas. É de Winston Churchill, por exemplo, a definição: "O pessimista vê dificuldade em cada oportunidade; o otimista vê oportunidade em cada dificuldade".

Bonito, tem até uma certa profundidade, mas também tem um certo cheirinho de "otimismo governamental", que, assim como o "pessimismo de oposição", está sempre mais perto da propaganda que da filosofia.

Outro craque que palpitou sobre o tema foi Oscar Wilde: "O pessimista é alguém que, podendo escolher entre duas desgraças, escolhe ambas". Boa sacada! Mas faltou o outro lado: e o otimista? Ele não escolhe? Ele nega que sejam desgraças? Ele olha para o lado e finge que não viu?

Trazendo essa contenda para nossas latitudes, ninguém melhor como guia ou guru que aquele que está no (meu) Top 3 dos gênios brazucas: Millôr Fernandes (outra vaga nesse ranking é do Nelson Rodrigues, o terceiro vocês podem escolher), que definiu definitivo: "O pessimista é um chato, o otimista, um tolo". Ou ainda: "O otimista erra tanto quanto o pessimista, mas não sofre por antecipação".

Touchê! É isso aí. Mas e daí? Este texto pode (e vai) acabar; a discussão não. Os dois lados nunca vão chegar a um consenso.

O otimista acha que vive no melhor mundo possível e o pessimista sofre porque tem certeza de que isso é verdade.

Quando já ia pesquisar se essa frase era mesmo minha ou se tinha lido em algum lugar, a voz da moça do aplicativo me trouxe de volta: "O destino de Claudio chegou".

Achei aquilo tremendamente filosófico e, ao desembarcar do carro, embarquei direto: e o destino, a que será que se destina? Tem como mudar o destino do destino? E será que você ainda tem idade para fumar esses troços?

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