Opinião - Bernardo Guimarães: O que o Banco Central pode e vai fazer com os juros

há 5 meses 10

Nesta quarta-feira (6), espera-se que o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central anuncie um aumento na taxa Selic de 0,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, levando a taxa real de juros para cerca de 7% ao ano.

Essa taxa de juros traz a muitos a sensação de que alguma coisa está errada. Afinal, 7% ao ano é demais. Muitos outros países têm problemas fiscais e nem por isso a taxa de juros real fica tão alta.

Essa sensação está correta. É tentador concluir daí que a Selic é alta demais pelos interesses dos que lucram com isso e por motivações políticas de quem comanda o Banco Central. Afinal, se não é isso, o que poderia explicar esses juros reais?

Uma peça que falta nesse quebra-cabeça é a proporção de crédito direcionado no Brasil. Ela é enorme na comparação internacional. Assim, a taxa Selic deve ser vista como apenas uma das nossas taxas básicas de juros.

A maior parte do crédito imobiliário é financiada por depósitos na caderneta de poupança, cuja remuneração tem pouco a ver com a Selic. Essa é uma regra do nosso mercado de crédito, que beneficia quem compra e vende casas.

Temos regras desse tipo que direcionam crédito para o setor agrícola e o BNDES que direciona crédito para setores da indústria.

Todas essas intervenções reduzem o custo do crédito nesses setores. A rigor, é como se a taxa básica de juros para essas modalidades de crédito fosse bem menor.

Então, de fato, a taxa real de juros dada pela Selic é alta demais, mas por outro lado, as taxas básicas de juros implícitas em outras formas de crédito são menores. Juntando tudo isso, nossa taxa básica real de juros deixa de ser tão estranha.

Isso, porém, é difícil de explicar, e muito mais difícil de mudar —quem constrói e vende imóveis não vai gostar que o dinheiro depositado na caderneta de poupança possa financiar qualquer outra coisa, pois menos recursos seriam direcionados para o crédito imobiliário, e os juros para quem compra casas aumentariam, reduzindo a venda de imóveis.

Seguindo exatamente essa lógica, todas essas intervenções no mercado de crédito tornam o crédito mais barato para alguns, mas levam a uma taxa Selic maior.

Mais fácil que entender ou mudar o mercado de crédito é culpar o Banco Central pelos juros altos. É isso que o presidente Lula tem feito há dois anos, e a nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do BC veio como parte dessa estratégia, com uma promessa implícita de juros baixos.

O problema é que deixar de aumentar os juros agora passará a mensagem de que o Banco Central é leniente com a inflação. Isso elevaria as expectativas de inflação, e um sintoma disso seria a alta imediata do dólar. Aliás, o movimento do câmbio nos últimos dias só reforça a necessidade de controlar expectativas.

Então, nesta quarta-feira (6), o Copom escolhe a taxa de juros sem ter muita escolha.

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Nada disso vai mudar em 2025. O bode expiatório Roberto Campos Neto sairá da sala, mas os juros não cairão com Galípolo. A taxa real dada pela Selic continuará astronômica.

Em geral, o BC não tem poder para reduzir juros reais de modo consistente sem gerar inflação.

O discurso político terá que se ajustar. Seria uma boa hora para repensarmos as regras do mercado de crédito que geram juros mais baixos para alguns e uma taxa Selic tão alta.

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