Simpatia, alegria de viver e bom papo são características que definem o DNA brasileiro, mas se olhássemos mais de perto encontraríamos outra qualidade essencial em nosso código genético: a habilidade de nos virar no trinta. Aplicada em várias situações do cotidiano, é impossível não pensar em empreendedorismo quando falamos em nos virar no trinta. Apesar de a prática não ser exatamente algo positivo, já que esse cenário existe porque não temos suporte ideal para as pessoas que querem empreender, essa habilidade já salvou todo empreendedor, pelo menos um vez na vida.
O conceito de empreendedorismo no Brasil não é novo. Desde os primeiros colonizadores que tentaram estabelecer pequenos comércios e culturas, passando pelos imigrantes que ajudaram a moldar nossa economia, pessoas negras que foram escravizadas e não tiveram oportunidade e encontraram no empreendedorismo a única forma de subsistência, até os inovadores de hoje, o desejo de criar e crescer é um traço definidor do nosso povo.
A ideia de empreender começou a se consolidar mais formalmente na década de 1990, com a criação dos primeiros cursos técnicos e de graduação focados em administração, gestão e marketing. Nos dias atuais, essa tradição continua viva, manifestando-se em uma infinidade de formas —desde o pequeno negócio familiar até as startups que estão no epicentro da revolução tecnológica.
Desde então, de acordo com o Sebrae, cerca de 1,2 milhão de novos empreendimentos formais são criados anualmente, sendo que 99% destes negócios são micro e pequenas empresas e mais da metade é comandada por mulheres. Não dá para saber ao certo, mas talvez tenha sido exatamente no nascimento do empreendedorismo que "se virar nos trinta" virou uma marca dentro desse nicho, que juntando ao espírito natural de empreender do brasileiro, define bem o que é empreender no Brasil.
Os brasileiros, as mulheres principalmente, estão sempre encontrando formas de vencer as barreiras que aparecem em seus caminhos nessa árdua estrada chamada empreendedorismo. O problema neste cenário é que muitas vezes se virar nos trinta para as mulheres empreendedoras é também garantir comida na nossa mesa e dinheiro para os estudos dos filhos e as contas de casa.
Este é um claro exemplo das diferentes motivações por trás da vontade de empreender de cada pessoa. Enquanto alguns estão apenas cansados de seguir as regras e horários de uma empresa e de ter um chefe, outros dependem deste empreendimento para sobreviver, para conquistar a independência financeira.
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Saber se virar nos trinta é uma habilidade muito bem-vinda, o problema é quando essa habilidade tem que ser usada para garantir o mínimo, coisas que já deveriam estar disponíveis para nós, empreendedoras, independentemente de gênero, raça ou classe social. Não estou aqui para falar mal de quem utiliza desta ferramenta para lidar com os imprevistos do dia a dia, mas sim para fazer vocês refletirem que se tivéssemos uma estrutura que apoie os empreendedoras, principalmente os empreendimentos femininos, talvez nem precisássemos aprender a nos virar no trinta.
O empreendedorismo brasileiro é uma história de resiliência, criatividade e transformação. Como fundadora da Rede Mulher Empreendedora, tenho o privilégio de testemunhar diariamente a força e a determinação de milhares de mulheres que, em diferentes cantos do país, estão moldando o futuro econômico e social do Brasil. Nossa trajetória, enquanto nação, reflete um profundo espírito empreendedor que transcende barreiras e classes sociais.
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