Opinião - Adriana Fernandes: BC faz choque de juros e mesmo assim dólar não responde

há 3 semanas 2

O Banco Central tomou uma decisão de manual ao elevar a taxa Selic em um ponto porcentual e sinalizar novas altas na mesma magnitude nas duas próximas reuniões do Copom.

Ao entregar mais três pontos percentuais (300 bps) de alta de juros, colocando a Selic em patamar altamente restritivo, o BC mira valorizar a taxa de câmbio, inibir o consumo das famílias e das empresas e, assim, controlar o avanço da inflação.

Com o que já está sinalizado, a taxa básica atingirá 14,25% ao ano –patamar mais alto da Selic desde a crise do governo Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016.

O remédio foi administrado de maneira tempestiva num cenário de deterioração acentuada das condições financeiras, após o anúncio do pacote de corte de gastos. As medidas foram taxadas de tímidas e ainda sim a batalha no Congresso é para evitar uma desidratação do pacote.

Ao fazer os dois movimentos, o BC surpreendeu o mercado financeiro com um guidance (instrumento de comunicação da prescrição futura de juros) longo e passou à frente da curva de juros de mercado.

Parece claro que a autoridade monetária demonstrou inequívoca disposição de perseguir a meta de inflação, colocando a taxa de juros em patamar restritivo com um grau de segurança elevado.

Com a decisão, a Selic fica bem acima do chamado juro neutro, aquele que não acelera nem desacelera a inflação.

Independentemente de quanto se estima qual é a taxa neutra no Brasil (as estimativas variam de 4,5% a 6%), a folga é grande diante de um juro real (acima da inflação) de 12 meses à frente que, nesta segunda-feira (16), beira 10% ao ano.

Com esse choque de juros, era de se esperar um recuo do dólar. Não é isso que estamos vendo. Qual o sentido da reação do mercado, dado que não há mais agora dúvida de que o BC está colocando a taxa de juros acima da neutra?

A partir do diagnóstico do que é feito com as informações importantes que os preços de mercado revelam, outros instrumentos podem ou não ser administrados de forma adicional.

O BC resolveu utilizar esse instrumento injetando bilhões no mercado de câmbio com leilões extraordinários para tentar conter a alta do dólar. Na sexta-feira (13), a autoridade monetária e o Tesouro Nacional já tinham anunciado uma ação conjunta que foi vista com desconfiança pelo mercado.

Os preços, porém, seguem sem mudanças relevantes. O máximo que se consegue é amenizar a alta. A resposta parece estar na dificuldade de ancorar expectativas fiscais. Não há uma fala dura do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nem da cúpula do Congresso.

O Legislativo deveria parar de barganhar emendas e entregar esse pacote que é o mínimo necessário do fiscal com alguma medida mais forte. Haddad deveria sinalizar logo que vai começar o próximo ano congelando despesas para mostrar real compromisso com o déficit zero, sem descontar os gastos com precatórios.

Seria um choque fiscal para fazer os juros altos durarem pouco e terem efeito no câmbio mais rapidamente.

Sem alguém que bata na mesa e coordene uma resposta conjunta de governo e congresso, o BC pode jogar um caminhão de dólares no mercado que o máximo que vai conseguir é movimentar um pouco a cotação para baixo.

Vai fazer que diferença? Com o juro encarecendo o custo de apostar contra o real, o BC vai entrar numa queda de braço para tentar retirar os excessos da taxa de câmbio?

A certeza é que não há setor produtivo que consiga se desenvolver com um juro real de 10%.

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