A OpenAI almeja que o ChatGPT atinja um bilhão de usuários ativos semanais no próximo ano, triplicando os 250 milhões que tem atualmente.
Para isso, a empresa aposta em uma gama de novos produtos de IA (inteligência artificial), construindo seus próprios data centers e uma parceria com a Apple para impulsionar sua próxima fase de crescimento.
"[Em 2025] estaremos nos consolidando como um laboratório de pesquisa atendendo milhões... esperando que possam ser bilhões de consumidores ao redor do mundo", disse Sarah Friar, diretora financeira da dona do ChatGPT, ao Financial Times.
A meta é traçada enquanto a startup de nove anos se reposiciona como gigante global da tecnologia e se prepara para o que o fundador e CEO Sam Altman descreve como a "Era da Inteligência".
Tendo arrecadado mais de US$ 6 bilhões (R$ 36 bilhões) em investimentos com uma avaliação de US$ 150 bilhões (R$ 900 bilhões) em outubro —a mais alta na história de uma startup no Vale do Silício— Friar disse que a OpenAI continuará a levantar "mais dinheiro", incluindo capital e dívida.
"Em 74 dias [desde que entrei na empresa em junho], colocamos US$ 10 bilhões de liquidez no balanço. Então, essa foi minha maneira de dizer: 'Ei, eu também vou fazer as coisas acontecerem'", afirmou.
"Estamos em uma fase de crescimento massivo, cabe a nós continuar investindo. Precisamos estar na vanguarda no front dos modelos. Isso é caro", comentou Friar.
Para alcançar seus objetivos, a OpenAI planeja investir na construção de centrais de data centers na região Meio-Oeste e Sudoeste dos EUA, de acordo com Chris Lehane, novo chefe de políticas da OpenAI.
Este impulso para construir sua própria infraestrutura de IA segue uma estratégia semelhante de rivais de big techs como Google e Amazon. Lehane afirmou que "chips, dados e energia" são os recursos críticos necessários para ter sucesso na corrida da IA.
A OpenAI se transformou rapidamente nos últimos 12 meses desde que Altman foi destituído pelo conselho da empresa e, em seguida, reintegrado como CEO em novembro passado.
Ela trouxe seus primeiros líderes financeiros e de produto, aumentou o número de funcionários em cinco vezes para mais de 2.000 pessoas e desencadeou uma transição complicada de um modelo de negócios sem fins lucrativos para um que almeja o lucro.
Embora a OpenAI tenha perdido executivos-chave em suas equipes de pesquisa e segurança —incluindo três de seus cofundadores originais este ano e líderes técnicos de destaque, como Ilya Sutskever e Mira Murati— ela abriu caminho para uma leva de novos engenheiros e líderes.
Muitos dos novos membros da equipe têm expertise em construir e monetizar produtos de consumo. Isso levou a um foco duplo: uma visão de pesquisa de longo prazo e metas de produto de curto prazo, enquanto se concentra em aumentar produtos geradores de receita para superar seus custos crescentes.
Está gastando bem mais de US$ 5 bilhões (R$ 30 bilhões) por ano e "não está perto de atingir o equilíbrio" devido aos custos relacionados à construção de modelos de IA, de acordo com pessoas com conhecimento das finanças do grupo.
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Os novos funcionários dizem que ainda são guiados pela "missão" da OpenAI de construir e distribuir inteligência artificial geral, mas são encarregados de implantar utilidade no mundo real no curto prazo.
"Nos últimos anos, tivemos um ponto de inflexão realmente grande na qualidade da inteligência que agora pode ser transformada em produtos que são realmente úteis para as pessoas", comentou Srinivas Narayanan, vice-presidente de engenharia da OpenAI, que chegou no ano passado vindo da Meta, dona do Facebook. "É por isso que estou aqui."
O lançamento de agentes de IA —assistentes semelhantes a chatbots que ajudam a executar tarefas na web, desde a coleta de informações até a reserva ou compra de itens— será uma prioridade para 2025, de acordo com Friar.
"Agente tem que ser a palavra do ano... Pode ser um pesquisador, um assistente útil para pessoas comuns, mães trabalhadoras como eu. Em 2025, veremos os primeiros agentes muito bem-sucedidos implantados que ajudam as pessoas no dia a dia", disse a executiva.
Rivais como Google, Anthropic e o maior apoiador da OpenAI, Microsoft, sinalizaram com planos de lançar seus próprios agentes de IA no próximo ano.
Enquanto isso, o lançamento do ChatGPT em bilhões de dispositivos da Apple, que começou sua implementação nos EUA no mês passado, é fundamental para impulsionar um grande salto no número de usuários.
Um dos principais investidores de capital de risco da OpenAI observou que o objetivo de 1 bilhão de usuários poderia ser rapidamente alcançado por causa dessa parceria.
Ele relembrou que a Apple tem 2 bilhões de iPhones no mundo e quer lançar um modelo com inteligência artificial, o que facilitaria a OpenAI a alcançar o objetivo com a parceria entre as duas companhias. Ao atingir este patamar, a empresa de IA já se coloca em condição de enfrentar Google e Facebook.
Ao mesmo tempo, a OpenAI também terá que navegar em um cenário político cada vez mais complexo.
Lehane, um estrategista político veterano que começou sua carreira na Casa Branca de Clinton, precisará lidar com o conselheiro próximo do presidente eleito Donald Trump e ex-cofundador da OpenAI, Elon Musk, que dirige sua própria empresa de IA, xAI, e deve ajudar a moldar a política federal de IA.
Musk recentemente entrou com um processo contra a OpenAI e seu apoiador, Microsoft, acusando Altman de "engano de proporções shakesperianas" e buscando anular sua parceria comercial com a Microsoft.
"[Musk] é obviamente uma personalidade única neste momento. Acho que a maneira como pensamos sobre isso é que controlamos o que podemos controlar", analisou Lehane ao FT.
Apesar do conflito público com Musk, ele disse que a OpenAI e a equipe de Trump estavam alinhadas sobre o papel da IA na segurança nacional e competitividade econômica.
Lehane quer que a OpenAI lidere na construção de uma IA "democrática" liderada pelos EUA em escala, em comparação com uma versão da tecnologia liderada pela China.
"Tivemos conversas com a equipe de transição... tanto durante a campanha quanto depois", disse ele.
"Esta administração falou... sobre a necessidade imperativa de... a IA liderada pelos EUA prevalecer sobre a IA liderada pela China. E se você quer que isso aconteça como governo dos EUA... então a OpenAI terá que estar no centro dessa conversa."
Lehane acredita que os próximos anos trarão uma transição global e histórica —um período em que a tecnologia evolui a um ritmo que as sociedades terão dificuldade em se adaptar.
Os governos precisarão desenvolver novas parcerias público-privadas em IA, semelhante a um modelo de serviços públicos elétricos, para distribuir de forma justa a tecnologia e seus benefícios, analisou Lehane.
"Parte da responsabilidade e papel desta empresa é... potencialmente moldar essas conversas e formar essas conversas, e, esperançosamente, ser capaz de encontrar algumas das respostas à medida que avançamos", disse.