Ondas de calor no futuro podem ser ainda mais letais do que o previsto

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Nos Estados Unidos, o último mês de setembro foi o segundo setembro mais quente já registrado; também sucedeu o verão mais quente de todos os tempos, em um ano que está a caminho de ser o mais escaldante da história.

O corpo humano tem um limite de resistência ao calor. O calor matou 60 mil pessoas só na Europa em 2022, e pelo menos 55 mil na Rússia em 2010. Agora, novas pesquisas sugerem que os seres humanos podem ser mais vulneráveis às altas temperaturas do que se acredita.

"É assustador", diz Matthew Huber, diretor do Instituto para um Futuro Sustentável na Universidade Purdue, em West Lafayette, Indiana.

Em 2010, Huber e Steven Sherwood, cientista climático da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, propuseram um limite de tolerância ao calor para o corpo humano.

Eles sabiam que a umidade atrapalha a evaporação e reduz a capacidade do corpo de se resfriar pelo suor, responsável por até 80% da perda de calor do organismo. Então usaram uma medida que considera esse efeito: a temperatura de bulbo úmido (Tw).

Um termômetro de bulbo úmido é um termômetro envolto em algodão úmido. A evaporação da água resfria o bulbo, simulando o efeito do suor para resfriar o corpo.

Baseando-se em princípios fisiológicos, eles concluíram que um Tw de 35ºC seria o limite de tolerância ao calor humano.

Essas condições são raras, pois a combinação de altas temperaturas e umidade extrema é incomum. Acima desse limite, os mecanismos de resfriamento do corpo começam a falhar, e a temperatura interna sobe. O início da insolação se torna questão de tempo.

O calor é perigoso em níveis de Tw bem mais baixos. Mas os 35ºC eram vistos como um ponto absoluto —o momento em que uma pessoa jovem e saudável, à sombra e com água ilimitada, sucumbiria em cerca de seis horas.

Na época, ondas de calor tão severas pareciam impossíveis. Huber e Sherwood previram que essas condições poderiam surgir com 5 a 7 graus Celsius de aquecimento global em relação aos níveis pré-industriais, "colocando em questão a habitabilidade de algumas regiões".

Embora a probabilidade de tanto aquecimento fosse remota, a conclusão foi alarmante. A revista New Scientist chamou isso de "thermogeddon".

Em 2018, pesquisadores com modelos climáticos atualizados descobriram que, sem cortes significativos de emissões, a China poderia enfrentar o limite humano regularmente até 2070. Até o fim do século, o mesmo poderia acontecer no Golfo Pérsico, Índia e sudeste Asiático.

Quase 2 bilhões de pessoas poderiam enfrentar temperaturas intoleráveis por muito tempo. A mortalidade por calor extremo poderia superar a de todas as doenças infecciosas juntas, rivalizando com o câncer e as doenças cardíacas.

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Em 2020, descobriram que algumas regiões do Oriente Médio já haviam ultrapassado esse limite algumas vezes desde 2005. Um autor observou que "podemos estar mais perto de um ponto crítico do que pensamos".

A maior preocupação é que esse limite aceito pode não ser real. "Não é real", disse Larry Kenney, professor de fisiologia da Penn State. A tolerância real ao calor pode ser mais baixa.

Em 2021, Kenney recrutou 24 voluntários para um teste em uma câmara térmica e descobriu que a tolerância máxima era um Tw de 31ºC. "Este é o limite", disse ele.

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