Em setembro, nosso colunista Jason Vogel já tinha captado o mau agouro pairando sobre o C4 Cactus. Na época, alguns lojistas no Rio de Janeiro estavam praticando grandes descontos no SUV da marca, enquanto outros afirmavam já não estarem mais recebendo novas unidades do modelo há algum tempo.
E o que era uma expectativa se tornou realidade. A Citroën confirmou hoje (10/12) ao Motor1.com Brasil que não está mais oferecendo o C4 Cactus no mercado brasileiro. Em comunicado oficial, a marca declarou apenas que "A Stellantis confirma o fim da comercialização do modelo Citroën C4 Cactus no Brasil. O modelo se tornou referência em ousadia, design e performance, e construiu um legado que será continuado pelos SUVs Basalt e Aircross. Ele segue sendo comercializado nos países importadores.”
Junto com a aposentadoria do Citroën C4 Cactus e de sua plataforma, chega ao fim no Brasil ainda a linha de motores 1.6 16V aspirado da família EC5 que equipava as versões de entrada do SUV e o 1.6 16V turbo, o conhecido THP. Com a mudança de geração do Peugeot 2008, que também oferecia estes propulsores, agora a dupla que tinha origem ainda na PSA (Peugeot Citroën Automobiles, pré-Stellantis), deixa de ser oferecida no Brasil.
C4 Cactus: a história
Lançado na França em 2014, o Cactus nasceu para ser um “modelo essencial”, simples e prático de usar. Era um SUV compacto cujo desenho original (Fase 1) chamava a atenção pelas diversas sacadas incomuns incorporadas pelo designer britânico Mark Lloyd, diretor do Centro de Criação da Citroën em Paris. O maior destaque eram as laterais protegidas de pequenos impactos por largas faixas de poliuretano termoplástico, que traziam em sua estrutura 15 almofadinhas de ar de cada lado. Eram os “airbumps”, que também estavam presentes nos para-choques.
As lanternas traseiras quadradas, unidas por uma faixa que contrastava com a cor da carroceria, eram uma referência ao Peugeot 205 (1982-1998), enquanto as colunas C lembravam as do Citroën BX (1982-1994). O painel com duas telas digitais, sendo a central multimídia no topo do tablier, ainda era considerado algo inovador na época. Outra peculiaridade era a migração do airbag do passageiro do painel para o teto, sob o para-sol, como forma de liberar espaço para o porta-luvas. Em vez de maçanetas internas convencionais, as portas eram abertas puxando-se pequenas alças de tecido grosso. As janelas traseiras eram basculantes.
Foto de: Citroën
O Cactus Fase 1 (2014-2018) com suas almofadinhas de ar nas portas
Equipado com a plataforma PF1 (a mesma dos primeiros Citroën C3 e C4, bem como dos primeiros Peugeot 208 e 2008), o C4 Cactus recebia na Europa o motor 1.2 PureTech, de três cilindros. Havia também versões de quatro cilindros, a gasolina ou a diesel.
Fabricado em Madri, Espanha, esse Cactus original em estado bruto só durou quatro anos. Jamais foi vendido no Brasil, mas sim em países vizinhos, como o Uruguai.
Fase 2
Em 2017, a França decidiu encerrar a produção do C4 II hatch e concentrar a linha no C4 Cactus. Para tanto, lançou em 2018 uma Fase 2 do modelo, com jeitão mais convencional: o que era um SUV exótico foi suavizado visualmente a ponto de se tornar um “hatch alto”.
Os airbumps se tornam mais discretos, menores e localizados na parte inferior das portas. A dianteira foi completamente redesenhada, com a grade adotando o estilo de outros modelos da marca, como o C3 Aircross e o C4 Picasso.
Ainda em 2018, a PSA Peugeot Citroën passou a produzir o Cactus Fase 2 no Brasil, com algumas diferenças em relação ao que era fabricado na Europa. Todas as versões traziam racks no teto, suspensão mais alta e vidros das portas traseiras que subiam e baixavam (em vez de serem basculantes). Sua pintura “biton” também causou impacto!
Citroën C4 Cactus THP Shine Pack - Teste
O motor podia ser o EC5 1.6 aspirado, de 118 cv ou — aí a melhor parte — o 1.6 THP, turbocomprimido e com injeção direta, de 173 cv. Assim equipado, o Cactus tinha uma ótima relação peso/potência (7,02 kg/cv), sendo um carro muito divertido de guiar. Pudera: o motor 1.6 THP (seu nome oficial é EP6) foi desenvolvido em conjunto com a BMW, sendo usado também nos Séries 1 e 3, assim como nos Mini.
Apesar de suas inegáveis qualidades, o Cactus Cactus nunca fez muito sucesso no Brasil. Desde seu lançamento por aqui, em agosto de 2018, o modelo teve 71.639 unidades emplacadas no país. Seu melhor ano foi 2021, quando ficou em 14º no ranking geral das vendas, com 19.552 carros, ficando à frente de modelos como VW Polo, Peugeot 208, Chevrolet Spin e Renault Sandero.
O C4 Cactus Fase 2 deixou de ser produzido na Europa em outubro de 2020. Lá, deu vez a dois modelos: o C3 Aircross (A88, bem diferente do nosso) e o C4 de terceira geração (C41). Desde então, o Cactus é fabricado apenas em Porto Real (RJ).