As obras de modernização em Congonhas previstas para os próximos anos e as novas regras adotadas pelo terminal pressionam contra a presença dos jatos executivos no terminal paulistano. O setor diz que aeronaves já começaram a migrar para outros aeroportos do estado.
Segundo Flávio Pires, CEO da Abag, entidade que representa o segmento, terminais como o Catarina, em São Roque, e outros em Jundiaí e Sorocaba, passaram a ganhar preferência de viajantes que vêm a São Paulo de jatinho depois que uma nova regra passou a valer em novembro do ano passado.
Na ocasião, o aeroporto proibiu aviões de pequeno porte de usar sua pista principal. A medida foi solicitada pela Aena, que administra o terminal, e teve aval da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo).
Com a nova regra, aviões com envergadura inferior a 14,5 metros passaram a ter de usar apenas a pista auxiliar do aeroporto. A Abag estima que, logo após a medida, 25% da frota de jatos que operava no aeroporto decidiu sair de Congonhas.
Outra mudança para o segmento valerá a partir de janeiro, quando a quantidade de pousos e decolagens de jatos permitidos por hora no aeroporto cairá de oito para quatro movimentos. Os outros quatro slots (jargão usado pelo setor para definir a movimentação na pista) ficarão como reserva para eventuais ajustes das operações, segundo a Aena.
Procurada pela Folha, a Aena disse que o ajuste no número de slots a partir de janeiro é necessário para evitar impactos aos voos comerciais e aos passageiros durante o período de obras.
"Após a conclusão dos trabalhos, os quatro slots de reserva serão destinados às operações de voos comerciais, de forma a garantir o atendimento a um maior número de usuários", escreve a empresa em nota.
A companhia espanhola, que assumiu o terminal em outubro, afirma haver espaço para manter a aviação geral (segmento que inclui jatos executivos) em operação no aeroporto de Congonhas, mas com ajustes operacionais, diz.
Folha Mercado
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As obras de modernização em Congonhas preveem um novo centro comercial, com 20 mil metros quadrados de área, e a construção de um novo terminal para aumentar as pistas de taxiamento e a principal, além de outras mudanças.
Pires afirma que a associação trabalha para não haver mais reduções no uso de Congonhas por aeronaves de negócios. Mas, segundo ele, o Campo de Marte, na zona norte da capital paulista, se tornará um destino atrativo.
"Na minha opinião, o Campo de Marte vai crescer muito. Os custos são menores do que aqui [em Congonhas], então é mais competitivo", afirma.
A associação decidiu transferir sua feira anual de jatos executivos, a Labace, para o Campo de Marte a partir de 2025. Até este ano, o evento é realizado em Congonhas, no espaço onde ficavam os hangares da Vasp, companhia aérea cuja falência foi decretada em 2008.
A 19ª edição da Labace tem início nesta terça-feira (6) e continuará até a quinta-feira (8).
Com o começo das obras no aeroporto, o espaço não poderá mais ser utilizado pela feira, segundo Pires, da Abag. Ele afirma que, mesmo depois de a modernização do aeroporto ficar pronta, o segmento não prevê a volta do evento para Congonhas.
Segundo ele, no Campo de Marte há mais vantagens para a Labace, como uma capacidade maior para expositores. "Em Congonhas temos uma restrição de espaço. Todo ano fica gente de fora."
As mudanças em Congonhas e o movimento de migração dos jatos executivos em São Paulo acontecem enquanto a aviação de negócios demonstra crescimento.
A Abag registrou, em junho, aumento de quase 6% na frota do segmento, que inclui aviões com motor a pistão, jatos, helicópteros e turboélices, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Hoje são quase 10,3 mil aeronaves do tipo contabilizadas pela entidade.
A associação projeta 948,2 mil pousos e decolagens no Brasil para o segmento neste ano –patamar maior do que os 926,1 mil movimentos observados em 2023.
Segundo Flávio Pires, o tempo de espera para entrega de aeronaves é de aproximadamente dois anos e meio, na média. Antes da pandemia, que causou problemas no fornecimento de peças de aviões e atrasou os cronogramas de entrega, esse tempo era de nove meses, afirma.
A Tam, expositora de jatos e helicópteros da feira, afirma já ter comercializado 50 aeronaves entre janeiro e junho deste ano, número que representa quase 70% das unidades vendidas no ano passado. A expectativa da empresa é fechar 2024 com mais vendas do que em 2023.
Já a Líder Aviação diz ter 30 cartas de intenção de compra para o HondaJet Echelon, que será comercializado a partir de 2028. Com capacidade para até 11 pessoas, a aeronave consegue cobrir todo o território brasileiro sem precisar fazer escalas.