Uma segunda criança no Texas (EUA) morreu de sarampo, uma das doenças mais contagiosas do mundo e que foi declarada eliminada dos Estados Unidos em 2000, várias décadas após a introdução de uma vacina altamente eficaz.
Um declínio na vacinação entre crianças nos Estados Unidos nos últimos anos, alimentado por alegações não científicas de que as vacinas são inseguras, desencadeou os surtos. Aqui está o que você precisa saber sobre isso:
Houve mais casos de sarampo nos EUA nos primeiros meses de 2025 do que em todo o ano de 2024. Além do surto no oeste do Texas e no Novo México, os EUA relataram 607 casos até 3 de abril, incluindo 124 na semana anterior.
Na Europa, 127.350 casos foram relatados em 2024, o dobro do registrado em 2023 e o maior em 25 anos, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Na década anterior à criação de uma vacina em 1963, havia de 3 a 4 milhões de casos de sarampo nos EUA a cada ano, principalmente entre crianças, com 48 mil hospitalizações e de 400 a 500 mortes.
As complicações do sarampo incluem infecções de ouvido, perda auditiva, pneumonia, crupe (doença respiratória que inflama a laringe e a traqueia), diarreia, cegueira e inchaço do cérebro. Mesmo em crianças saudáveis, o sarampo pode causar doenças graves e morte. Em mulheres grávidas não vacinadas, o sarampo pode causar parto prematuro ou bebês com baixo peso ao nascer.
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Os CDCs (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos EUA estimam que 1 a cada 5 pessoas não vacinadas nos EUA que contraem sarampo precisarão de hospitalização.
Como prevenir a infecção por sarampo?
A melhor proteção é a vacina, administrada sozinha ou como parte de uma vacina contra sarampo, caxumba e rubéola comumente conhecida como vacina MMR, ou uma vacina contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela (MMRV). Nenhuma vitamina ou medicamento demonstrou prevenir o sarampo.
Duas doses da vacina MMR fornecem 97% de proteção contra o vírus. As crianças geralmente recebem a primeira dose do imunizante entre 12 e 15 meses de idade e novamente aos 4 a 6 anos.
Adultos nascidos antes de 1957 são considerados naturalmente imunizados, já que provavelmente tiveram sarampo na infância.
Adultos que não se lembram de ter tido sarampo e não sabem se foram vacinados devem receber uma dose da vacina, afirma o CDC. A agência também recomenda uma dose de reforço para adultos que receberam reforços há muitos anos e que possam estar expostos a um surto.
Como evitar surtos de sarampo?
Pelo menos 95% das crianças em idade de jardim de infância precisam ter recebido a vacina contra o sarampo para alcançar a chamada imunidade de rebanho que pode prevenir surtos.
Essa meta tornou-se irreal nos últimos anos, à medida que figuras públicas promoveram teorias —contrárias às evidências científicas– de que vacinas infantis causam autismo e outros riscos à saúde. Robert F. Kennedy, Jr., que chefia o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, ajudou a semear tais dúvidas por décadas.
A ideia vem de um estudo, há muito desmentido, liderado no final dos anos 1990 pelo pesquisador britânico Andrew Wakefield, que conectou o autismo à vacina contra o sarampo com um total de 12 crianças participantes. Nenhum estudo rigoroso encontrou ligações entre autismo e vacinas ou medicamentos, ou seus componentes como timerosal ou formaldeído.
A cobertura vacinal entre crianças em idade de jardim de infância nos EUA diminuiu de 95,2% durante o ano letivo de 2019 e 2020 para 92,7% em 2023 e 2024, de acordo com o CDC.
O condado do Texas no centro do surto atual tinha uma taxa de vacinação de 80% entre as crianças de jardim de infância em 2023 e 2024. Taxas de vacinação abaixo do necessário para alcançar a imunidade de rebanho deixam desprotegidos e vulneráveis ao vírus aqueles que não podem receber a vacina, incluindo bebês pequenos e pessoas com distúrbios imunológicos.
Como se dá o contágio por sarampo?
O sarampo se espalha por gotículas respiratórias produzidas pela tosse ou espirro. As partículas do vírus podem permanecer suspensas no ar por até duas horas. Se uma pessoa tem sarampo, até 90% das pessoas não vacinadas próximas serão infectadas, diz o CDC.
Os sintomas, incluindo tosse, coriza, olhos inflamados, dor de garganta, febre e a característica erupção cutânea vermelha e manchada não aparecem até 10 a 21 dias após a exposição. Como pessoas infectadas podem espalhar a doença para outras sem saber durante esse tempo, especialistas em saúde aconselham uma quarentena de 21 dias para indivíduos não vacinados que foram expostos ao sarampo.
Como o sarampo é tratado?
Não existem medicamentos específicos para o sarampo. Os tratamentos só ajudar a aliviar os sintomas e limitar as complicações. A OMS recomenda descanso, manter-se hidratado com líquidos e usar redutores de febre como ibuprofeno ou paracetamol.
Antibióticos podem ser usados para tratar pneumonia e infecções de ouvido e olho devido ao sarampo. Esteroides têm sido utilizados para tratar uma complicação rara do sarampo que causa inchaço cerebral, mas os esteroides também enfraquecem a defesa do sistema imunológico contra o vírus.
A vitamina A pode prevenir ou tratar o sarampo?
Suplementos de vitamina A, que foram indicados por Kennedy como uma alternativa à vacina, não podem prevenir o sarampo. O que estudos mostram é que altas doses de vitamina A podem reduzir drasticamente complicações graves em crianças com sarampo, com base em pesquisas em países de baixa renda onde a desnutrição é comum.
Qualquer evidência a favor de dar vitamina A a pacientes com sarampo no mundo desenvolvido "é fraca na melhor das hipóteses", diz Sean O’Leary, presidente do AAP (Comitê de Doenças Infecciosas da Academia Americana de Pediatria).
A OMS e a AAP alertam ainda que a vitamina A em doses recomendadas para o sarampo deve ser administrada sob supervisão médica devido ao risco de toxicidade.