O que os CEOs das grandes empresas de tecnologia querem de um segundo mandato de Trump

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Líderes das principais empresas de tecnologia se apressaram para parabenizar Donald Trump por sua vitória esmagadora na eleição, buscando restabelecer pontes com o presidente eleito —e com seu mais influente apoiador do Vale do Silício, Elon Musk— diante de um período que pode transformar o setor.

Os CEOs da Amazon, Apple, Google, Meta e Microsoft publicaram mensagens de apoio nas redes sociais na quarta-feira (6), contrastando com a reação mais cautelosa que demonstraram após as eleições de 2016 e 2020. Desde então, todas essas empresas enfrentaram investigações regulatórias e ameaças de antitruste como parte da ofensiva da administração de Joe Biden.

Essas empresas têm muito a ganhar com uma postura mais amigável em relação à tecnologia e aos negócios por parte de Trump, se conseguirem conquistar o político imprevisível, e que no passado entrou em confronto repetidamente com o que ele considera ser um eleitorado de esquerda, que teria financiado seus opositores e censurado sua voz.

Musk já assumiu o papel de emissário de Trump para o setor de tecnologia, após investir mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 567 milhões) em sua campanha e liderar uma intensa campanha nas redes sociais com dezenas de postagens diárias em sua plataforma X (antigo twitter). Em troca, Trump o chamou de "supergênio" e prometeu um cargo de consultoria amplo, focado na redução de custos governamentais e na desregulamentação.

O homem mais rico do mundo, que também lidera a Tesla, SpaceX e xAI, publicou emojis da bandeira americana em resposta a Tim Cook, da Apple, e Satya Nadella, da Microsoft, no X, e comentou "exatamente" para Andy Jassy, CEO da Amazon, e "legal" para Sundar Pichai, do Google.

"Os Estados Unidos são uma nação de construtores. Em breve, vocês estarão livres para construir", Musk fixou em seu perfil no X.

Aqui está um panorama do que os líderes de tecnologia esperam de um governo Trump.

Folha Mercado

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ACORDOS

O segundo mandato de Trump é visto como um catalisador imediato para fusões corporativas, investimentos de private equity e saídas de capital de risco, que há anos estão paralisados pela intensa fiscalização dos órgãos reguladores de Biden e pelas altas taxas de juros.

Em vez de adquirir diretamente startups promissoras de inteligência artificial, empresas como Microsoft, Amazon e Google adotaram estratégias alternativas, contratando os fundadores dessas startups ou licenciando sua tecnologia, o que permitiu evitar uma fiscalização antitruste mais convencional.

O temor de rejeição de fusões também bloqueou a venda lucrativa de startups financiadas por capital de risco.

O principal antagonista dessas empresas foi Lina Khan, presidente da FTC (Comissão Federal de Comércio), em parceria com Jonathan Kanter, chefe da divisão antitruste do DoJ (Departamento de Justiça). A dupla bloqueou fusões e aquisições, mirou monopólios tecnológicos e examinou parcerias entre startups de IA e grandes empresas de tecnologia, incluindo a Microsoft.

"As negociações já começaram, as conversas estão acontecendo entre conselhos de administração", disse Boris Feldman, co-diretor da prática global de tecnologia da Freshfields. "Haverá uma enxurrada, sabendo que, quando chegar a hora da aprovação regulatória, Khan estará de volta à Yale Law School."

Banqueiros de investimento e consultores das gigantes do Vale do Silício e dos capitalistas de risco também ficaram otimistas com a valorização do dólar e do mercado de ações.

"De uma perspectiva corporativa, estamos entusiasmados. Os portões vão se abrir e vamos imprimir dinheiro", disse uma pessoa do Goldman Sachs, cujo valor das ações subiu 13% na quarta-feira.

ANTITRUSTE

O retorno de Trump à Casa Branca pode também significar um alívio das investigações antitruste nos EUA e na Europa.

"Parabéns, Presidente Trump, pela vitória! Estamos ansiosos para nos engajar com você", disse Tim Cook, CEO da Apple, no X. Em 2016, Cook ajudou a angariar fundos para a rival de Trump, Hillary Clinton, mas cativou Trump durante seu primeiro mandato. Cook tem mantido uma postura discreta enquanto sua empresa enfrenta pressão de reguladores globais.

Khan e Kanter lideraram uma campanha vigorosa contra o poder corporativo das Big Techs. Notavelmente, o DoJ venceu este ano uma decisão histórica contra o Google em buscas, enquanto outras ações judiciais foram abertas para desafiar o poder de mercado da Apple, Amazon e Meta.

Muitos preveem que os dias de Khan na FTC estão contados. Musk escreveu no X na semana passada que ela "será demitida em breve".

Analistas especulam que Trump poderia instruir o DoJ a abandonar a ação de monopólio contra a Apple, movida no início deste ano. A fabricante do iPhone também deve receber uma multa sob a nova Lei de Mercados Digitais da União Europeia devido às regras de sua App Store. Trump não esconde seu desdém pelo regulador europeu.

"Uma questão interessante é se Trump ou o vice-presidente JD Vance pedirão à União Europeia e ao Reino Unido que parem de punir as empresas americanas, especialmente à luz dos desafios com a China", disse Feldman da Freshfields. "Biden não rejeitou; se as empresas de tecnologia sentem que estão construindo um relacionamento com Trump, esse pode ser o pedido delas: ajude-nos a tirar os europeus das nossas costas."

Em outubro, Trump disse em uma entrevista a um podcast que Cook ligou para ele para reclamar de uma decisão recente de um tribunal da União Europeia que exigiu que a empresa pagasse € 13 bilhões em impostos atrasados na Irlanda, bem como uma multa antitruste de € 1,8 bilhão em março por sufocar a concorrência de serviços rivais de streaming de música.

"[Cook] disse que eles estão usando esse [dinheiro] para administrar sua empresa", disse Trump. "Eu disse ´mas Tim, eu tenho que ser eleito primeiro. Eu não vou deixar que eles tirem vantagem das nossas empresas. Isso não vai acontecer`".

No entanto, Trump e seus seguidores têm um relacionamento complexo com a aplicação da lei antitruste. O principal processo antitruste contra o Google, que a empresa perdeu este ano, foi aberto sob sua supervisão, e JD Vance já havia expressado apoio ao Khan da FTC —e à divisão do Google, que é algo que o DoJ de Biden disse que poderia buscar como um remédio no caso do monopólio de busca.

REDES SOCIAIS

As empresas de mídia social estão tentando evitar a ira de Trump, que as acusa de censurar e silenciar discursos conservadores. Em 2022, Trump declarou que, se reeleito, assinaria uma ordem executiva proibindo agências federais de "colaborar com qualquer organização, empresa ou pessoa para censurar, limitar, categorizar ou impedir o discurso legal dos cidadãos americanos" e cortaria fundos para universidades envolvidas em censura.

Mark Zuckerberg, cujas empresas incluem Facebook e Instagram, pareceu se aproximar de Trump nos últimos meses. No verão, ele chamou Trump de "impressionante" por sua reação a uma tentativa de assassinato e escreveu uma carta ao comitê judiciário da Câmara, de maioria republicana, acusando Biden de pressionar repetidamente a Meta a "censurar" certos conteúdos sobre Covid-19 durante a pandemia.

Na quinta-feira, ele escreveu no Threads, seu clone X, para parabenizar Trump por "uma vitória decisiva", acrescentando: "Estou ansioso para trabalhar com você".

Uma das sagas mais observadas será a potencial proibição do TikTok nos EUA, devido a preocupações de segurança nacional ligadas à sua empresa-mãe chinesa, ByteDance. Em 2020, Trump propôs banir o TikTok, mas desde então mudou de posição, alegando que é do interesse dos EUA garantir a competição para o Facebook de Zuckerberg, que ele criticou como um "inimigo do povo".

O TikTok processou o governo para impedir a legislação aprovada durante o governo Biden que exigiria que o aplicativo cortasse laços com a ByteDance ou fechasse nos EUA até meados de janeiro. A proibição do aplicativo de vídeos curtos de US$ 230 bilhões pode prejudicar seus maiores investidores nos EUA, incluindo o Susquehanna International Group, que detém uma participação de 15%, e a Coatue Management, que detém menos de 5%. Jeff Yass, cofundador e diretor administrativo da SIG, foi um grande doador para a campanha de Trump este ano.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

A abordagem dos EUA em relação à inteligência artificial (IA) é uma das maiores questões políticas para o setor, com debates sobre regulação e segurança dessa tecnologia emergente.

Trump não articulou sua própria abordagem para IA, mas muitos antecipam um toque leve. Em seu primeiro mandato, Trump emitiu uma ordem executiva "comprometida em fortalecer a liderança americana em IA", que observou que "a inovação pode ser dificultada ou impulsionada no exterior por regulamentações governamentais excessivamente restritivas". Mas isso foi antes de a IA se tornar um dos investimentos mais quentes —e mais lucrativos— no Vale do Silício.

Trump prometeu cancelar uma ordem executiva de Biden sobre IA, que refletiu a abordagem mais cautelosa dos democratas e a ênfase em padrões de segurança e proteção em detrimento da inovação irrestrita. O presidente eleito disse que proibiria o uso de IA para censurar a fala de cidadãos americanos "no primeiro dia".

Nisso, Trump compartilha pontos em comum com Musk, que enfatizou a importância de os EUA vencerem a corrida global de IA contra a China. Ele levantou bilhões de dólares para financiar sua própria startup, a xAI, mesmo alertando que o desenvolvimento descontrolado da IA representa uma ameaça existencial à humanidade.

Musk também processou a OpenAI, a startup que ele cofundou com Sam Altman em 2015, por se desviar de sua missão original sem fins lucrativos de desenvolver IA para o benefício de todos. Desde então, a fabricante do ChatGPT cresceu e se tornou uma das empresas privadas mais valiosas do mundo, avaliada em US$ 150 bilhões.

A reação de Altman à vitória de Trump foi simbólica da transformação que ocorreu no Vale do Silício nos quatro anos desde que ele deixou o cargo. "Isso parece a pior coisa que aconteceu na minha vida", Altman escreveu em 2016.

Ele foi mais conciliador na quarta-feira: "Parabéns ao presidente Trump. Desejo a ele muito sucesso no trabalho."

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