Novo musical de Gabriel Chalita canta o amor e o luto em uma noite interminável

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Com texto de Gabriel Chalita e direção de José Possi Neto, o musical "Território do Amor" celebra, por meio das canções de Edith Piaf, Marlene Dietrich e Maria Callas, o amor e o luto em suas mais diversas formas. Navegando por músicas em quatro idiomas diferentes, a peça canta a trajetória dessas cantoras, suas dores e amores, em uma narrativa atravessada por canções como "Non, Je ne Regrette Rien" e "Lili Marleen".

No palco do Teatro Sérgio Cardoso, o público é convidado a acompanhar uma travessia simbólica conduzida por um barqueiro, vivido por Marco França.

Nele, grandes nomes da música, como a consagrada Dalva de Oliveira e a estrela de Hollywood alemã Marlene Dietrich, compartilham histórias sobre o amor e a brevidade da vida a partir das canções que marcaram suas trajetórias.

Em meio a uma noite interminável na qual não podem fechar os olhos, esperam a chegada do amanhecer enquanto lidam com momentos difíceis que tiveram de passar, como a violência do marido e a perda da filha, casos de Maria Callas e da brasileira Dolores Duran, respectivamente.

A ideia do espetáculo, segundo Chalita, ex-secretário da educação do Estado de São Paulo e autor do musical, é provocar reflexões sobre a efemeridade da vida e o luto em suas múltiplas faces.

"Morremos em vida também. Os dias, os amores, os sonhos morrem. As mortes nos causam luto. Como enfrentar o luto? Optei por falar sobre esses temas emprestando a vida de mulheres extraordinárias que, apesar dos sofrimentos, tiveram a coragem de viver", diz.

Tão efêmera quanto a vida foi a preparação do elenco, que teve dois meses para estudar a vida, os gestos, contextos e técnicas musicais de cada artista. "Talvez, sem a pressão do tempo, a gente pudesse aprofundar um pouco mais a pesquisa. Isso certamente daria ainda mais força para o espetáculo", afirma Larissa Goes, que dá voz a Dolores Duran, única personagem negra do espetáculo.

Segundo Bernardo Fonseca Machado, pesquisador da cena de musicais paulistana com doutorado pela Universidade de São Paulo, o modelo de ensaio de dois ou três meses está ligado aos espetáculos inspirados em formatos como os da Broadway, em Nova York, e West End, em Londres.

Para ele, esse formato de musical tem se beneficiado dos recursos da Lei Rouanet, impulsionando um mercado aquecido no país, ao viabilizar ensaios praticamente diários, mais intensos.

Maria Clara Manesco, que interpreta Dietrich, diz que a peça ainda está em construção. "A cada dia, com a presença do público, a gente vai amadurecendo e vai enriquecendo o espetáculo. Diferente de um trabalho audiovisual, ele nunca vai ser um trabalho fechado, encerrado."

Passeando pelo português, francês, inglês e espanhol —elemento que pode confundir o espectador desavisado—, Chalita se inspirou nas angústias de Callas, maior soprano do século passado que teve uma vida conturbada desde a infância, e em gestos como a da francesa Barbara, que cantava em penitenciárias femininas. "Misturei brasileiras com outras cantoras para dizer de alguma maneira que a dor não escolhe o canto nem o canto em que se vive."

"A história cumpre seu papel de emocionar e de mover — um conceito aristotélico. A arte precisa ser entranhada para nos mover em direção ao belo, ao bom", afirma o autor.

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