A melancolia domina o Lollapalooza nesta sexta-feira. Entupido de adolescentes e crianças, o festival paulistano estreou sob chuva e com artistas que cantam sobre as dores da juventude, entre corações partidos e o sentimento de não ser entendido.
Jão é quem melhor traduz no Brasil hoje esse tipo de som. Uma das principais atrações do dia, ele fez show no palco Samsung 40 minutos depois do agendado —parte da programação do festival precisou ser adiada por causa dos raios que surgiram à tarde.
Jão fez um show menos megalomaníaco que o de costume. De palco simples, com um jogo de lâmpadas às suas costas, e com a banda e backing vocals num palanque branco, ele apostou menos em objetos cenográficos, como a estátua de dragão que vinha usando em turnê ou um megapolvo que trouxe ao Lollapalooza de três anos atrás.
Dessa vez escolheu inovar na setlist, que teve canções antigas e queridas dos fãs. Cantou, por exemplo, ":( (Nota de voz 8)", do seu disco de 2019, que ele não apresentava ao vivo há pelo menos cinco anos. Abriu com "Acontece", outra favorita dos fãs, e fez um cover de "Linger", surpreendendo seus admiradores. Disse que era uma homenagem a uma de suas pessoas favoritas, sem contar quem.
Mas teve os sucessos de sempre também, como "Idiota", "Meninos e Meninas" e "Alinhamento Milenar". São todas músicas sobre aventuras joviais, paixões intensas, sentimentos que às vezes eles considera bobos —"vou te amar como um idiota", fez o público berrar, aos pulos.
Era preciso tomar cuidado para não escorregar. O chão do Autódromo de Interlagos já tinha virado um lamaçal após a chuva da tarde, e para alcançar os palcos é preciso andar com lentidão e cuidado. Boa parte das pessoas calçou sacolas para evitar que os tênis afundassem nas poças —muitas já reclamavam em voz alta das meias encharcadas.
Ao menos a chuva deu uma trégua durante o show, que serviu para aquecer quem não vê a hora de Olivia Rodrigo subir ao palco vizinho. Como Jão, a cantora americana, em sua primeira passagem no Brasil, também narra suas dores, traições, decepções. E reclama muito de ter tido o coração partido.
O show terminou com Jão vestido numa jaqueta que pegou fogo. Foi uma das poucas pirotecnias usadas na apresentação, e o efeito não impressionou tanto —as chamas apagaram rápido. Mas o público terminou empolgado o suficiente, muitos às lágrimas, para a rebeldia roqueira de Olivia Rodrigo.