Ney Matogrosso ferve São Paulo gelada com show lotado no Allianz Parque

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Ney Matogrosso levou a turnê agora chamada "Bloco na Rua - Ginga para Dar e Vender" ao seu ponto alto neste sábado, 10, no Allianz Parque, em São Paulo. Com pouquíssimos lugares vazios na arena do Palmeiras, o artista mostrou ter muita lenha para queimar, mesmo numa noite em que os termômetros caíram abaixo dos 10°C. Rodando o Brasil com o show há cinco anos, Ney viveu uma noite consagradora.

Aos 83 anos, o cantor saciou sua plateia. Ele é praticamente uma bandeira contra o etarismo. Sua voz continua uma força da natureza e a performance física é impressionante sob qualquer aspecto, em uma hora e meia de show.

Não é apenas questão de fôlego ou explosão muscular, como faz o saltitante Mick Jagger, outro exemplo de longevidade. O corpo de Ney é um instrumento de atuação, que se contrai e se distende. Falar que ele canta com o corpo não é uma frase de efeito, é a melhor definição de sua coreografia solitária.

À figura esguia desfilando no palco são acrescidos uma banda afiadíssima, que está com Ney há mais ou menos duas décadas, e um repertório com alguns dos mais relevantes compositores da MPB. O show teve três canções, estrategicamente espalhadas na setlist, que formaram uma espécie de espinha dorsal da apresentação, por suas posições de destaque na conquista da popularidade que Ney alcançou na carreira.

Abrindo o show, e dando nome à turnê, "Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua", de Sérgio Sampaio, reproduz o clima festivo que marcou o repertório do cantor, e traz junto uma forte conotação política, desafiadora, outra faceta do artista.

"Pavão Mysteriozo", clássico de Ednardo nos anos 1970, carrega na letra o exotismo que definiu algumas fases da trajetória de Ney, tanto na música como no visual.

Mas, para muitos fãs no Allianz Parque, a emoção veio mais forte quando Ney cantou "Sangue Latino", seu hit nacional com o Secos e Molhados, a banda que mudou para sempre a MPB em sua curta duração, entre 1973 e 1974. Para cinquentões e sessentões, que formavam uma grande fatia da plateia no Allianz, Secos & Molhados ainda é uma recordação poderosa.

O repertório foi generoso ao contemplar compositores que são notoriamente favoritos do cantor. Casos de Rita Lee, com "Jardins da Babilônia" e "Corista de Rock", e Itamar Assumpção, com "Já Sei" e "Já Que Tem Que".

De Chico Buarque, talvez o autor mais gravado por Ney, são quatro canções: "Tua Cantiga", "Yolanda", "Postal de Amor" e "Ponta do Lápis", essas duas últimas parcerias de Chico com Raimundo Fagner.

Entre músicas que Ney praticamente tomou para si ao gravar versões que conquistaram o público com mais intensidade do que os originais estão "O Último Dia", de Paulinho Moska, e "Poema", de Cazuza. Mais dois momentos resgatam canções de gigantes da MPB: "Roendo as Unhas", de Paulinho da Viola, e "Como 2 e 2", de Caetano Veloso.

Especialmente para essa versão do show em estádio, Ney incluiu "Pro Dia Nascer Feliz", original do Barão Vermelho, e "Balada do Louco", do repertório dos Mutantes. Nessas duas, e em algumas sutis mudanças em canções que estão na turnê desde o começo, é possível notar uma tendência mais roqueira, talvez mais eficiente diante de plateias maiores. O público no Allianz aprovou.

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