A Nasa decidiu eliminar o posto de cientista-chefe e outros cargos como parte dos esforços do governo Donald Trump para reduzir o número de funcionários na sede da agência em Washington.
Os cortes afetam cerca de 20 funcionários, incluindo Katherine Calvin, a cientista-chefe e especialista em ciências climáticas. O último dia de trabalho dela e de outros membros da equipe será 10 de abril.
Isso poderia ser um prenúncio de cortes mais profundos nas missões científicas da Nasa e um maior foco nos voos espaciais tripulados, especialmente para Marte. Durante o discurso de Trump ao Congresso na semana passada, ele disse: "Vamos liderar a humanidade no espaço e plantar a bandeira americana em Marte e até mesmo muito além".
Trump não deu um cronograma para o plano de levar astronautas ao planeta vermelho e, durante uma entrevista na Fox News no último domingo (9), ele afirmou que não era uma prioridade. "Está no topo da minha lista de prioridades? Não." Ele acrescentou: "Seria uma grande conquista".
A administração enviou um aviso ao Congresso nesta segunda-feira (10) de que a Nasa estava abolindo o escritório do cientista-chefe e o escritório de tecnologia, política e estratégia.
"Isso é míope e extremamente alarmante", disse a democrata Zoe Lofgren, membro de maior ranking no Comitê da Câmara sobre Ciência, Espaço e Tecnologia. "O ataque de Trump à ciência continua. Se você quisesse um manual sobre como perder para a China em cada corrida tecnológica, é isso."
Bhavya Lal, que atuou como administradora associada de tecnologia, política e estratégia quando o escritório foi criado em 2021, afirmou que o objetivo do escritório era fornecer "análises rigorosas, rápidas, baseadas em dados e objetivas aos tomadores de decisão na Nasa e na Casa Branca" sobre questões frequentes nas agências federais.
As questões incluíam a economia de remoção de detritos espaciais e moldar como futuras atividades na Lua seriam governadas. O trabalho do escritório "não era apenas sobre chegar à Lua", disse Lal. "Era sobre lançar as bases para uma exploração lunar sustentável."
O escritório também "garantiu que o impulso da Nasa pela inovação fosse equilibrado com uma consideração cuidadosa de seus impactos a longo prazo", disse ela.
Os cargos eliminados incluem os de tecnólogo-chefe e o de economista-chefe, que faziam parte do escritório de tecnologia, política e estratégia. Os cargos de tecnólogo-chefe nos centros da Nasa, como o Johnson Space Center em Houston e o Kennedy Space Center na Flórida, não são afetados, segundo o comunicado da agência espacial.
A Nasa também está cortando vários cargos relacionados à diversidade, equidade e inclusão em seu escritório de igualdade de oportunidades.
Os custos de rescisão são estimados em cerca de US$ 1,2 milhão, de acordo com o comunicado da agência espacial.
"Para otimizar nossa força de trabalho e em conformidade com uma ordem executiva, a Nasa está iniciando sua abordagem gradual para uma redução de pessoal", disse Cheryl Wheeler, porta-voz da Nasa, em um email. "Um pequeno número de pessoas recebeu notificação na segunda-feira de que fazem parte dela."
Os funcionários elegíveis poderiam optar pela aposentadoria antecipada, segundo Wheeler.
Democratas se disseram preocupados de que ocorram mais cortes na Nasa.
Na semana passada, a Sociedade Planetária, uma organização sem fins lucrativos que promove a exploração espacial, citou a hipótese de que a administração Trump poderia estar considerando cortar pela metade o orçamento das atividades científicas da Nasa.
As demissões anunciadas na segunda-feira "são mais simbólicas e certamente menos impactantes do que alguns dos outros números que estamos ouvindo para o orçamento ou futuras reduções de pessoal", disse Casey Dreier, chefe de política espacial da entidade.
Calvin foi nomeada cientista-chefe da Nasa em janeiro de 2022. Desde 2008, ela tem sido pesquisadora no Instituto Conjunto de Pesquisa sobre Mudanças Globais do Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico em College Park, Maryland. Em 2023, ela foi nomeada presidente de um grupo de trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, um órgão das Nações Unidas que fornece informações científicas aos governos enquanto trabalham em políticas climáticas nacionais.
O papel do cientista-chefe tem sido aconselhar o administrador da Nasa e outros funcionários sobre o planejamento estratégico. Calvin é o 11º cientista-chefe da agência desde 1982. O cargo também havia sido eliminado em 2005 durante a presidência de George W. Bush e foi recriado em 2011 quando Barack Obama era presidente.
A posição de cientista-chefe é separada da do administrador associado que dirige a diretoria de missões científicas da Nasa, Nicola Fox.