Entrando na reta final de seu período como presidente nacional do PT, após sete anos no comando do partido, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), afirmou que a legenda deve ter o cuidado de, ao dialogar com as forças políticas de centro, não se descaracterizar a ponto de perder a referência ideológica.
Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira (9), Gleisi defendeu que o PT busque uma ampliação do arco de alianças com vistas ao próximo ciclo eleitoral – desde que isso não comprometa bandeiras históricas apoiadas pela base do partido.
“O PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam o país. É um partido de esquerda e assim deve continuar. Isso não impede que converse e faça alianças, como tem feito”, afirmou a parlamentar.
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“Diálogo político com o centro nós tivemos na campanha e ampliamos no governo. Já tentaram matar o PT e não conseguiram. Não podem pedir agora que o PT se suicide, rompendo com a base social que nos trouxe até aqui”, defendeu a presidente da legenda.
Questionada, então, sobre o que poderia fazer o PT romper com a sua base social, Gleisi Hoffmann citou o pacote de corte de gastos anunciado pela equipe econômica recentemente – e criticado por setores do mercado.
“Fazer um pacote de retirada de direitos como o mercado quer. Ele [mercado] está dizendo que as medidas são insuficientes. O que o mercado está pedindo é negar tudo aquilo que nós defendemos historicamente”, disse Gleisi.
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“Acabar com o aumento real do salário mínimo, desvincular o mínimo da aposentadoria e dos benefícios sociais, mexer nos pisos da Saúde e da Educação… Não querem fazer a votação da reforma da renda para dar isenção a quem ganha até R$ 5 mil”, enumerou a deputada, quando indagada sobre quais eventuais medidas iriam contra os princípios do PT.
Gleisi revelou, ainda, que manteve conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao longo do processo de discussão sobre o pacote fiscal, e o alertou para que o governo avaliasse com cuidado o que, de fato, seria anunciado.
“Nas oportunidades que eu tive de falar com ele durante esse processo, reafirmei as posições do PT. Ele sabia que tinha que preparar medidas e foi muito sensível e responsável nessa condução”, disse.
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Avaliação de Lula e eleição de 2026
Na entrevista, Gleisi Hoffmann deixou claro que o PT não trabalha com outro nome além de Lula para a eleição presidencial de 2026, na qual o atual presidente pode ser candidato novamente.
“Ele é fundamental para ganharmos as eleições. Não vejo um outro nome com capacidade de disputa na sociedade brasileira”, afirmou.
A deputada também comentou os índices de aprovação do governo federal, que, no entendimento, do PT, são inferiores às entregas que a gestão fez nos dois primeiros anos de mandato.
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“É preciso uma ofensiva do governo para mostrar o que está fazendo. Tem muita coisa positiva acontecendo, como crescimento do PIB, redução do desemprego e aumento da renda. Mas a sensação da sociedade, ou a construção dessa sensação, não reflete isso. Precisa de um empenho maior de comunicação e político”, defendeu Gleisi.
Segundo a presidente do PT, o maior adversário de Lula continua sendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “É a extrema direita como um todo, mas ele [Bolsonaro] é a grande liderança. Acho que vai tentar se candidatar, está dizendo isso. Vai depender do fortalecimento das instâncias da democracia para não deixar isso acontecer”, avalia.
Gleisi Hoffmann garantiu, na entrevista, que mantém uma relação cordial com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), apesar de já ter feito críticas a algumas decisões da equipe econômica.
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“Da nossa parte, [a relação] nunca foi ruim. A gente sempre falou aquilo que defende historicamente. E ele também sempre falou o que defende. Muitas vezes a gente não combinava. Mas sempre foi em alto nível”, afirmou.
Sobre a recente disparada do dólar, justamente após a divulgação do pacote fiscal, a presidente do PT disse que o Banco Central (BC) “tem instrumentos para enfrentar a especulação com a moeda”.
“[O BC] Torrou US$ 70 bilhões das reservas em 127 intervenções no tempo de Bolsonaro e [Paulo] Guedes. Não intervir agora é dar um tiro no peito da população. [Roberto] Campos Neto fez tanto terrorismo que penso ter constrangido os novos diretores do BC”, criticou.