Eu prometo que nunca mais vou beber. Essa era a minha frase na ativa. Falava para a minha família, para meus amigos e até para as pessoas que trabalhavam comigo. Era fácil dizer isso após uma bebedeira com muitos estragos, eu não queria ver bebida na minha frente pela ressaca física e eu não queria pensar em mais um vexame. Dizia com todas as letras e sabia que naquele momento era verdade. Mas bastava a poeira baixar que eu estava novamente entre as garrafas.
Às vezes não era tão radical e dizia que ia parar de beber durante uma semana, ou então que só ficaria numa cerveja. Mas de nada adiantava. Conseguia cumprir um mês, dois meses, no terceiro já estava voltando a beber para valer. E assim eu ia perdendo credibilidade com todo mundo. Ninguém acreditava mais em mim.
Lembrei disso porque estamos em dezembro. Outro dia uma amiga veio me dizer que vai fazer uma promessa de Ano-Novo e imediatamente me lembrei dessa época em que eu girava em círculos querendo provar que eu conseguia cumprir promessas.
O ano termina e as promessas se espalham. Como se a virada do ano fosse trazer algo mágico, um poder de fazer com que as pessoas fossem se renovar. No grupo dos AA eu já ouvi muitos colegas confessarem estas promessas de Ano-Novo. Um me disse que conseguiu ficar apenas duas semanas sem beber. O outro, que escondia da família que estava bebendo para fingir que a palavra dele tinha valor.
Na ilusão de querermos algo novo, acreditamos piamente que o ano que chega vai trazer uma força de mudança. Esquecemos que o grande poder está dentro de nós mesmos.
Eu parei de beber num começo de outubro, sem data específica ou milagrosa. Foi quando tudo tinha desmoronado e não teve jeito. E pelo que observo, é assim na grande maioria dos casos. Salvo um ou outro que consegue a proeza de parar de beber em uma data específica.
Claro que a época é reflexiva e fazemos um inventário do que gostaríamos de mudar em nós mesmos, mas não há dúvida de com a dependência química não funciona assim. Infelizmente não depende exclusivamente de uma decisão de fim de ano. É preciso um esgotamento.
Na verdade, não tem fórmula específica. Cada caso é um caso, mas certamente é preciso de ajuda médica, uma vontade sincera de querer parar e outros fatores. Alguns se juntam a algo espiritual, é válido.
A maior promessa que eu pude fazer foi comigo mesma, entre quatro paredes. Eu ia parar de beber. Sem muito estardalhaço. E o entorno começou a acreditar em mim, vendo as mudanças acontecerem, assistindo às minhas atitudes.
O Ano-Novo traz reflexão e eu desejo do fundo do coração que aqueles que sofrem com o vício tentem se livrar. Que peçam ajuda. É possível mudar. Feliz Ano-Novo todos os dias.