O que se passava na cabeça de Elvis Presley durante seus anos finais, uma fase de decadência artística nos shows cafonas em Las Vegas?
Um pesadelo delirante com o rei do rock preso dentro de uma obra do artista gráfico holandês M.C. Escher.
Assim é a visão de Miguel Falabella, que assina a direção e adaptação de "Elvis: A Musical Revolution", que estreia, nesta quinta-feira, no Teatro Santander, em São Paulo.
"Eu queria um pesadelo em Vegas. Esse cara ficou um passarinho numa gaiola dourada. Preso na cidade pelo coronel Parker, seu empresário, cheio de compromissos por uma questão financeira. E aí eu me lembrei da gravura do Escher, das escadarias, que eu sempre achei que é o cérebro de todos nós. Essas mil imagens que a gente consegue produzir ao mesmo tempo na cabeça", diz o diretor.
O musical foi criado nos Estados Unidos, onde ocupa vários teatros, e já chegou aos palcos australianos. Falabella concordou em dirigir depois de ter a autorização dos americanos para mexer no texto e na concepção do musical.
No original, a narrativa é cronológica e vai até o especial de televisão que Elvis estrelou em 1968, marcando a sua volta ao rock de qualidade depois de anos fazendo filmecos. Assim, toda a fase Las Vegas, até sua morte, em 1977, estava fora do espetáculo.
O Elvis no palco é Leandro Lima, ator da série "Coisa Mais Linda", da Netflix, e das recentes novelas "Pantanal" e "Terra e Paixão", da TV Globo. Sobre ser ou não parecido com o rei do rock, ele comenta uma brincadeira nos camarins.
"O pessoal diz que uma coisa que eu tenho em comum com o Elvis é suar muito. Mas o timbre de voz é parecido. Por ser um musical da Broadway, tem hora que vai para oitavas mais altas, e isso acaba até descaracterizando o grave do Elvis. Mesmo que no começo da carreira a voz dele fosse mais aguda.
Tem músicas como ‘Heartbreak Hotel’, por exemplo, que no musical vão lá para cima."
O conhecimento de Lima a respeito de música vem desde a época em que cantou num grupo de axé na Paraíba, onde nasceu, antes de viajar muito pelo mundo como modelo.
Aos 42 anos, atuando em televisão há 15 anos, ele encara o primeiro musical da carreira. Sugerido a Falabella por um amigo, foi chamado meses depois para as audições. "Fiz teste com sete ‘Priscillas’. Quando me avisaram que eu seria o Elvis, eu não sabia se comemorava. Onde foi que eu me meti, sabe?"
Vindo de um sucesso teatral em "Gaslight: Uma Relação Tóxica", que deu a ele uma indicação ao prêmio Bibi Ferreira, Lima sentiu bastante as exigências específicas de um musical. "Depois de duas semanas de ensaio, eu me perguntava por que tinha ido à audição. É muita coisa, uma dinâmica totalmente diferente do teatro de prosa. Eu tenho 13 trocas de roupa."
Ter aceitado sem hesitar o desafio inédito de um musical pode ser reflexo de uma "cara de pau" adquirida em anos e anos de viagens como modelo? "Eu já dormi na rua no frio de Nova York. Perrengue chique, mas é perrengue. Eu fui atropelado por um ônibus na Itália, me quebrei todo. Passei 15 dias num hospital em Roma, sozinho, tenho placa no corpo. Você vai aprendendo a encarar tudo o que chega, né?"
Luiz Fernando Guimarães interpreta o coronel Parker, tirânico empresário que guiou toda a carreira de Elvis. É um personagem que os biógrafos apresentam com diferenças entre um perfil e outro, oscilando entre um homem com algum carinho paternal com Elvis e um crápula que apenas se aproveitou do talento do cantor.
"Eu acho que eu vou abrir para os dois lados", afirma o ator. "Eu interpreto um cara que não tem estrutura para lançar um astro como o Elvis. Um cara meio fingido, que poderia ser no máximo um dono de circo. Uma coisa minha passou a ser uma coisa do coronel —ser impaciente. Ele não tem paciência com o Elvis."
"Estou num espetáculo que é cheio de uma garotada, tenho que manter o pique", diz Guimarães, que já fez musicais em sua carreira, com sucesso, mas neste ele não canta. "Nos momentos sem música, quando eu começo a ouvir quem está contracenando comigo, é hora de equilibrar o espetáculo. Porque não é todo mundo que gosta de música o tempo todo. Quando para a música, eu falo, que legal, vou aproveitar esse espaço."
O musical fica quatro meses em cartaz e não vai viajar para outras cidades. O cenário, com suas grandes escadarias móveis que somam 200 degraus —o equivalente a subir um prédio de 13 andares— obrigou alterações no Teatro Santander para abrir ao máximo a boca de cena.
Para ver "Elvis: A Musical Revolution", a opção é ver em São Paulo. Em poucas datas previamente avisadas na compra dos ingressos, Leandro Lima e Luiz Fernando Guimarães podem ser substituídos, respectivamente, pelos atores Daniel Haidar e Eduardo Semerjian.