Musical 'O Melhor Amigo', com Gretchen, é 'Mamma Mia!' nordestino e gay

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Moreno alto, bonito e sensual se apresenta como a solução dos problemas de coração partido de Lucas, em "O Melhor Amigo". Cantando "Amante Profissional", sucesso oitentista da banda Herva Doce, Felipe seduz o protagonista em meio às falésias de Canoa Quebrada, no litoral cearense.

O reencontro amoroso dos personagens, velhos amigos de faculdade apartados pela sexualidade mal resolvida, dá o tom do novo filme de Allan Deberton. Descrito pelo diretor como um "Mamma Mia!" nordestino, "O Melhor Amigo" tem cenário paradisíaco, comédia romântica e números musicais espalhafatosos, a partir da trilha sonora afetiva de muita gente.

"Nós queríamos fazer uma história de amor superlativa, trazer o tamanho de um espetáculo teatral para a obra", diz o diretor, seis anos depois de dirigir o premiado "Pacarrete". Assim como na trama embalada por canções do Abba, "O Melhor Amigo" também tem coro e bailarinos que se materializam nas areias da praia ou nas ruazinhas da cidade quando conveniente.

Na trilha sonora estão ainda "Mais Uma de Amor", da Blitz, e "Perigo", de Zizi Possi, entre outras. Gretchen, numa participação especial, entoa "Melô do Piripipi" e "Conga Conga", no palco de uma boate que recebe os vários turistas gays que estão em Canoa Quebrada para pegar praia de dia e homem à noite.

"As músicas são tão icônicas que até os mais novinhos vão conhecer. Elas estão na nossa cabeça sem sabermos, são atemporais", diz Gabriel Fuentes, que interpreta Felipe, jovem demais para ter ouvido os hits oitentistas na época de seu lançamento. Também é o caso de Vinicius Teixeira, protagonista e seu par romântico.

O último foi tomado por outros sentimentos de nostalgia durante as gravações. Teixeira se lembra de, ainda adolescente, assistir ao curta-metragem homônimo que deu origem ao longa que estreia agora, pela Sessão Vitrine Petrobras.

Protagonizada por um então desconhecido Jesuíta Barbosa, a obra correu a internet a partir de 2013, com sua trama simples e relacionável sobre um rapaz que sofre calado por causa da paixão que sente pelo melhor amigo, em teoria heterossexual.

Deberton lembra com entusiasmo a repercussão que o curta ganhou na internet nos anos 2010, com muitos gays se identificando com a situação que retratara em menos de 20 minutos. O diretor brinca que ficou frustrado quando a distribuidora internacional descobriu o link pirata e o derrubou. "Curta não repercute muito fora de festival, então foi legal ver que as pessoas estavam vendo, que pediam continuação, um longa", afirma.

Foi um processo parecido, porém mais demorado, com o de "Hoje Eu Quero Voltar Sozinho", trama de Daniel Ribeiro que foi um curta em 2010 e, depois de ganhar a internet LGBTQIA+, se tornou um longa em 2014.

Além de esticar a trama de "O Melhor Amigo", Deberton precisou amadurecer seus personagens e seu drama principal. Muito mudou na sociedade brasileira na última década, afinal, e se antes a saída do armário era um empecilho, agora o protagonista é bem resolvido.

"A sociedade está mais acolhedora em vários assuntos, então os conflitos vêm de questões internas do protagonista, que é introspectivo. Criamos um contraste com esse universo solar, cheio de amor e possibilidades que é o gênero musical e também o cenário de praia", afirma Deberton.

Mas ainda há caminho a percorrer. O diretor destaca que "O Melhor Amigo" foi selecionado para ser financiado por meio de edital público em 2020, "mas o dinheiro nunca apareceu". Na mesma época, Jair Bolsonaro, em uma live, citou o documentário "Transversais", produzido por Deberton, para desqualificar um outro concurso da Ancine, a Agência Nacional do Cinema.

Destinado a obras com temática LGBTQIA+, o edital foi suspenso, num ato que Deberton chama de censura, e o documentário sobre transexualidade teve que ser financiado de outras formas. "Agora a poeira baixou", diz, sobre o momento do lançamento de "O Melhor Amigo".

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