Montadoras no Brasil temem efeito Trump e já falam em cotas contra carros mexicanos

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As tarifas de importação de veículos anunciadas pelo presidente americano Donald Trump devem fazer com que os principais exportadores para os Estados Unidos redirecionem sua produção para mercados com os quais possuem acordos comerciais. As montadoras instaladas no Brasil temem especialmente a maior chegada de produtos mexicanos.

O México é o principal exportador de veículos para os Estados Unidos, vendendo para consumidores americanos 76% de sua produção no setor (ou 3,2 milhões de unidades). Diante do risco do volume direcionado ao Brasil desequilibrar o mercado, as montadoras instaladas no Brasil já sugerem a adoção de cotas de importação.

Trump anunciou no fim de março tarifas de 25% sobre importações de automóveis, ampliando a guerra comercial global que ele iniciou no novo mandato. "O que vamos fazer é uma tarifa de 25% para todos os carros que não são fabricados nos Estados Unidos", disse Trump em um evento no Salão Oval. "Começamos com uma base de 2,5%, que é onde estamos, e vamos para 25%."

De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), as tarifas anunciadas por Trump têm potencial de fazer as fábricas mexicanas ficarem ociosas. A associação prevê que, para eliminar esse risco, as empresas devem procurar principalmente países como o Brasil –com o qual o México tem um acordo de livre comércio, por meio do Mercosul.

"O Brasil, o Mercosul tem acordo de livre comércio com o México. Então, nós estamos percebendo que, desses investimentos que estão sendo anunciados para o Brasil, parte poderá deixar de ser feita para usar a capacidade ociosa existente no México. Isso tanto no setor de autopeças quanto no setor de produção de veículos. Esse é o impacto para o Brasil em termos de investimentos", diz Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.

Leite afirma que o cenário pode levar a um enfraquecimento do potencial de investimentos de montadoras em outros países da América Latina, já que há capacidade das montadoras disponível no México. E até mesmo investimentos já anunciados no Brasil poderiam ser revistos devido ao quadro.

A associação defende que, caso os produtos mexicanos realmente sejam desembarcados de forma expressiva no Brasil, o país adote providências. A principal sugestão é a adoção de cotas –ou seja, limite para as importações (que poderiam ter, a partir de determinado patamar, maior imposto).

"Se essas importações começarem a subir a um nível que crie um desbalanceamento da produção local, nós temos que trabalhar com uma política de cotas. Então cotas tem sido uma bandeira que a Anfavea defende na medida que ocorrerem excessos de importações", afirma.

Leite afirma que, paralelamente, a indústria chinesa tem feito pleitos para que o Brasil diminua o imposto de importação aos veículos vindos do país asiático. A Anfavea critica o pedido dizendo não ter nada contra as marcas chinesas, desde que a produção seja feita em território brasileiro.

"Isso é um ataque à produção local, aos investimentos e aos empregos", afirma Leite. "Qual o estímulo para se fazer uma produção de fato no país quando se tem uma política dessa forma? Um pedido desses, se avançar, vai gerar um impacto grande nos investimentos, na nossa produção e nos empregos", diz.

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