As montadoras chinesas continuam a expandir sua presença na Europa, mesmo diante de barreiras tarifárias impostas pela União Europeia. Em fevereiro de 2025, as vendas de veículos de marcas chinesas no continente cresceram 64% em relação ao mesmo mês de 2024, totalizando 38.902 unidades. A participação de mercado subiu de 2,5% para 4,1%, segundo a consultoria Dataforce.
Esse avanço ocorreu apesar das tarifas antidumping de até 35,3% impostas pela UE sobre veículos elétricos importados da China, além da tarifa padrão de 10%. As medidas foram anunciadas em outubro de 2024 e devem permanecer em vigor por cinco anos. Como resposta, os fabricantes chineses têm adotado estratégias diversificadas, que vão desde a produção local até a oferta de modelos híbridos plug-in e a ampliação da rede de vendas.

Jaecoo J7 PHEV
Enquanto as vendas de veículos 100% elétricos da China caíram 3,4% em fevereiro, somando 11.116 unidades, as exportações de híbridos plug-in cresceram 321%, alcançando 4.744 unidades no mesmo mês. Modelos como o BYD Seal U PHEV, MG HS PHEV e Chery Jaecoo 7 PHEV foram os principais destaques. Já veículos com motores a combustão de marcas chinesas também tiveram desempenho positivo, com bom volume das linhas Jaecoo e Omoda, da Chery.
A BYD teve crescimento expressivo em alguns mercados europeus no início de 2025. Segundo a Bloomberg, as vendas da marca aumentaram 551% no Reino Unido, 734% na Espanha e 207% em Portugal no mês de janeiro, superando inclusive os números da Tesla nesses mercados. De acordo com a consultoria Rho Motion, a BYD vem conquistando participação de mercado de forma consistente, mesmo com os impactos das tarifas.

Foto de: BYD
Outro ponto importante é o foco das marcas chinesas em diferenciação tecnológica. A Changan Automobile apresentou nove novos modelos de suas três marcas durante um evento em Munique, com recursos como estacionamento automático por comando de voz e modos de transformação para acampamento, que chamaram a atenção dos concessionários e da imprensa europeia.
A XPeng também está expandindo sua presença no continente. A empresa anunciou sua entrada na Polônia, Suíça, República Tcheca e Eslováquia, com planos de dobrar as vendas no exterior em 2025 e abrir mais de 300 pontos de vendas e atendimento ao cliente em todo o mundo.

Para driblar as tarifas, muitas fabricantes têm investido em fábricas na Europa. A Chery, por exemplo, fez parceria com a espanhola EV Motors para montar veículos em Barcelona sob a marca histórica Ebro, tornando-se a primeira montadora chinesa a produzir carros no continente. A BYD está construindo uma fábrica na Hungria, com capacidade anual de 350 mil veículos e previsão de início de operações ainda em 2025. Também avalia instalar uma unidade na Turquia.
Já a Leapmotor adotou outra abordagem, firmando parceria com a Stellantis para produzir seus carros na Europa. O modelo elétrico T03 teve algumas unidades fabricadas na Polônia, e há planos para iniciar a produção do B10 na Espanha a partir de 2026.

Foto de: Motor1 Brasil
Leapmotor B10 - Salão de Paris
A produção local é vista como uma das principais formas de superar barreiras regulatórias e conquistar a confiança de governos e consumidores europeus. Segundo Ji Xuehong, diretor do Centro de Pesquisa em Inovação da Indústria Automotiva da Universidade de Tecnologia do Norte da China, essa é uma estratégia semelhante à adotada por montadoras japonesas no passado.
A partir de junho, a fábrica da Magna em Graz, na Áustria, começará a montar modelos da XPeng e GAC com kits semi-desmontados (SKD), o que ajuda a reduzir custos e tarifas.
Apesar do avanço, algumas marcas ainda enfrentam dificuldades. A Nio foi impactada negativamente pelas tarifas, e a Polestar perdeu fôlego no mercado. A MG, por sua vez, segue com bom desempenho, embora boa parte de suas vendas ainda venha de modelos a combustão.
A Europa representa entre 17% e 18% do mercado automotivo global e é considerada uma região de entrada difícil, com exigências rigorosas e foco em veículos de maior valor agregado. Mesmo assim, as fabricantes chinesas seguem investindo para se consolidar no continente, apostando em eficiência de cadeia de suprimentos, inovação tecnológica e estratégias comerciais agressivas.
Fonte: China Auto News