Meu namorado não tem ambição; isso é um obstáculo para o relacionamento?

Uma leitora enviou a seguinte pergunta para a seção Ask the Therapist (pergunte ao terapeuta), do jornal The New York Time: Meu namorado e eu temos ideias diferentes sobre o que significa trabalhar duro. Fui criada por pais que me incentivaram a me esforçar a cada minuto de cada dia. A visão deles: Trabalhe o máximo que puder por mais de 40 horas por semana e ganhe o máximo de dinheiro possível. De certa forma, essa mentalidade ressoa comigo.

Meu parceiro, no entanto, vê o trabalho como um meio para um fim. Se ele terminar seu trabalho em menos de 40 horas, ele passará o resto do tempo fazendo o que bem entender —muitas vezes, ele só tirará um cochilo. Às vezes, isso me faz sentir sem inspiração, e eu me pergunto se eu deveria namorar alguém com mais ambição.

Talvez eu esteja muito envolvida na cultura da correria. Eu amo meu namorado, mas não sei como ou se podemos superar essas diferenças.

Isso é um obstáculo?

Resposta da terapeuta: O que mais me impressiona é como você está lidando não apenas com o estilo de trabalho do seu parceiro, mas com as crenças profundamente arraigadas sobre valor, motivação e dinheiro que você herdou dos seus pais. Enquanto enquadra isso como um conflito sobre ambição, eu te vejo lutando com uma pergunta profunda: O que define uma vida bem vivida?

Seus pais lhe ensinaram que produtividade constante é igual a virtude e que maximizar os ganhos é uma meta de vida importante. Esta é uma narrativa poderosa e que é igualmente ressonante em nossa cultura orientada para a realização. Mas seu desconforto com a abordagem do seu namorado pode ser um convite para examinar essas crenças mais de perto.

Seu namorado parece ter um senso claro de limites e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Ele cumpre as responsabilidades com eficiência e então se permite descansar sem culpa. Sua perspectiva pode oferecer algo valioso —um modelo diferente de se relacionar com o trabalho que não exija esforço constante para se sentir digno. Se o valor está vinculado ao trabalho, o que acontece quando você perde um emprego, fica doente demais para trabalhar ou se aposenta? Essa parece uma maneira arriscada de viver.

Você diz que as opiniões dos seus pais ressoam em você "de algumas maneiras", mas estou curioso sobre as maneiras pelas quais elas não ressoam. Se seus pais veem o cochilo do seu namorado como uma falha de caráter —sinalizando que ele é preguiçoso ou desmotivado— outra pessoa poderia facilmente achar sua abordagem admirável e saudável. Às vezes, quando julgamos as escolhas de outras pessoas, há um desejo oculto espreitando sob nossa consciência. Talvez haja uma parte de você que deseja que você também pudesse desacelerar, mas seu julgamento (não apenas do seu namorado, mas de si mesma por querer uma pausa) atrapalha. Se você liberar o julgamento, poderá até descobrir um pouco de inveja.

Você pode se fazer perguntas semelhantes sobre seu relacionamento com o dinheiro. O que "ganhar o máximo de dinheiro possível" significa? É sobre segurança —um amortecedor contra as incertezas da vida que ajuda você a se sentir seguro? É sobre status e reconhecimento —evidência tangível de que você é bem-sucedido? É sobre liberdade e opções —a capacidade de fazer escolhas sem restrições? Como seus pais responderiam a essas perguntas? Como você responderia? E como seu namorado responderia?

Talvez toda a sua ansiedade sobre compatibilidade esteja se infiltrando na privacidade da sua mente. Ou talvez você tenha feito comentários como "Ah, você está tirando um cochilo?" em um tom que implica sua desaprovação. Se ainda não o fez, é hora de vocês se sentarem juntos e terem uma conversa honesta, não sobre cochilos e ambição, mas sobre o que torna um relacionamento de longo prazo gratificante para cada um de vocês.

Algumas perguntas a considerar: É o trabalho do seu parceiro "inspirar" você, ou é suficiente que ele te ame e te entenda, e que vocês gostem da companhia um do outro? Se vocês dois colocarem seu "nariz na pedra de amolar a cada minuto de cada dia", há espaço para uma vida familiar mutuamente gratificante? Quanto dinheiro é suficiente para seus respectivos objetivos? O trabalho precisa ser uma fonte significativa de satisfação para ambos, ou um de vocês pode ver o trabalho de forma mais prática —como um meio de apoiar outros aspectos da vida em vez de ser seu propósito central? (Pode ser que seu namorado não tenha falta de ambição, mas que sua ambição esteja focada na última.)

Ao examinar suas crenças e ficar curiosa sobre as do seu namorado, você pode perceber que suas diferentes abordagens se complementam lindamente: sua motivação combinada com sua eficiência e definição de limites pode criar uma parceria poderosa em que a satisfação financeira, profissional, familiar e de relacionamento são todas possíveis de uma forma que dois parceiros hipermotivados podem não conseguir alcançar. Mas você também pode descobrir que os valores com os quais você cresceu estão limitando sua própria capacidade de encontrar alegria e equilíbrio.

No final das contas, a resposta à sua pergunta está menos em saber se você pode ficar com alguém como seu namorado e mais em expandir sua própria definição, separada de seus pais, do que significa viver uma vida bem-sucedida.