Com os perfis suspensos nas redes sociais, o influenciador Pablo Marçal nega ter promovido campeonato de cortes de vídeos entre seus seguidores desde que anunciou seu nome para a Prefeitura de São Paulo —mas é evasivo quando questionado sobre a data da última competição.
A Justiça suspendeu os perfis do empresário no último sábado (24), por entender que há indícios de que Marçal esteja cometendo abuso econômico ao promover os cortes de vídeos com recompensas financeiras.
Três dias após a decisão, o autodenominado ex-coach já soma cerca de 3 milhões de seguidores em nova conta do Instagram. Ele nega que sua campanha tenha contratado robôs, mas não afasta a possibilidade de que eles estejam entre os novos seguidores.
Em entrevista à Folha na tarde desta segunda-feira (26), no estacionamento de um prédio na avenida Paulista, Marçal diz ainda que falou com Jair Bolsonaro (PL) nos últimos dias e que a relação entre eles está normal. Mas sustenta que o ex-presidente, com quem trocou farpas na última semana, não tem controle sobre os eleitores da direita.
Eu queria primeiro entender qual foi a última vez que o sr. promoveu o campeonato de cortes [de vídeos].
Antes da campanha eleitoral. Da pré e da campanha.
Mas a questão da data é importante, porque...
Foi antes. Parei bem antes mesmo.
Eu lembro que em abril o sr. estava falando com o Maurício Meirelles [comediante com canal no Youtube] e falou no tempo presente.
Mas eu estava contando pra ele o que era que a gente fazia. Eu falo isso aberto em todas as entrevistas. Não tem nada a esconder, não.
O sr. falou: "Quem tiver mais visualizações eu pago em dinheiro. Tem garotos ganhando 400, 600 mil reais".
Tem. Esses [R$] 400 mil não sou eu que pago, não. É a plataforma.
Mas o sr. falou que pagava, que premiava.
Sim, eu falo isso com orgulho. Não é só no Maurício, em todos os podcasts. Agora, no período pré-campanha e campanha, não aconteceu.
Então em abril não?
Não, está suspenso.
Mas seus advogados têm clareza sobre a data?
Claro, eles estão me defendendo. Imagina se eles não têm.
Mas o sr. não sabe dizer exatamente a data.
Foi suspenso bem antes, inclusive.
O sr. concorda que um campeonato desses na pré-campanha, por exemplo, atrapalharia a isonomia entre os candidatos?
Eu acho que todo mundo tem que seguir a lisura do processo eleitoral e eu vou seguir exatamente do mesmo jeito. Eu até queria que as pessoas seguissem também devolvendo minhas redes sociais. Não teve nenhum aviso, nenhuma multa, nenhuma advertência, e já derrubaram. Parecendo que aqui virou a Venezuela. Acredito que inclusive eu tenho que ter isonomia para ter tempo de televisão igual aos meus concorrentes. Eu não tenho. Eu não estou usando dinheiro público. Eu sou o mais prejudicado de todos, então pra mim não faz o mínimo sentido isso aí.
A sua conta nova está com quase 3 milhões de seguidores...
Graças a Deus, pra você ver a besteira que eles fizeram. E está com mais engajamento que a primeira.
A Tabata [Amaral, candidata] sugeriu que não é orgânico.
Problema é dela, só vou discutir [com] quem está na minha frente. Não tem ninguém na minha frente na corrida eleitoral.
Mas não tem robô nos seguidores?
Sei lá, como é que eu vou saber? São 3 milhões de pessoas, como é que eu vou falar esse é robô e esse é gente, sei lá quem é. Eu sei que em 24 horas tem 3 milhões de pessoas.
Não tem robô contratado pela sua campanha?
Minha? Nunca, não mexo com isso não. Nunca mexi com robô.
O sr. tem falado que vai sair vitorioso no primeiro turno...
O povo vai sair. É diferente, porque se ganhar o Boulos ou o Nunes, o povo vai se ferrar e vai continuar desse jeito.
O sr. não teme que a reação da família Bolsonaro possa atrapalhar esse crescimento na direita?
Não são eles que vão votar aqui não, quem vota é o povo. E a liberdade não tem dono. Inclusive eu vou começar a apoiar agora o [Alexandre] Ramagem [candidato do clã Bolsonaro] lá no Rio de Janeiro, que está precisando de ajuda. O Carlos [Bolsonaro] está desocupado demais. Em nome do Carlos eu vou ajudar o Ramagem agora. Porque está feio lá, a gente vai perder a eleição lá no Rio de Janeiro.
O entorno do ex-presidente diz que ainda não deu para mensurar [nas pesquisas] a reação deles e que o sr. deve cair.
O problema é deles.
O sr. não concorda com essa avaliação?
Tanto faz para mim, eu não olho pesquisa. Eu gosto de zoar com o outro candidato por causa de pesquisa. O negócio é apuração na urna.
Bolsonaro está mais fraco hoje?
Não sei, isso aí tem que perguntar pra ele.
Mas ele pode perder a hegemonia desse eleitor?
Ele não tem hegemonia, o eleitor é de princípio, valor e propósito. Ele é nosso representante. Espero que ele se torne elegível novamente e vai ter meu apoio. Gosto muito dele, ele sabe disso.
O sr. já disse que não pediu o apoio dele, mas ele disse que o sr. pediu. Quem está mentindo?
Onde que ele falou isso?
Para a CNN.
Então fala pra ele resolver na CNN. Eu fui lá, ele sabe que eu não pedi. Ele me deu conselho, é diferente.
Quais foram os três conselhos que ele te deu?
Está registrado e concluído já. Eu não sou homem de ficar falando conversa que a gente conversou. Ele não gosta disso também. É por isso que eu duvido que ele falou isso aí.
Ele falou para a CNN que o sr. pediu o apoio dele, que o sr. é mentiroso.
Eu tenho três testemunhas. E eu vou ficar brigando com o Bolsonaro? A gente está do mesmo lado. Eu vou brigar é com o Lula, vou pedir pro Lula devolver o dinheiro que foi desviado. Eu vou brigar com Boulos, que quer fazer todo mundo mexer com droga nessa cidade. Eu não vou brigar com Bolsonaro.
Qual foi a última vez que o sr. falou com ele?
Foi ontem, anteontem, no WhatsApp.
E o que vocês falaram?
Não é da sua conta (ri). Com todo respeito, não é da sua conta.
É que teve uma troca de farpas na semana passada. Como está a relação?
Foi com o Carlos. Está normal. Isso é eleição, depois passa tudo.
O sr. tem falado que estão tentando movimentar aquele inquérito do Pico dos Marins...
Aquilo lá é um negócio assombroso, que ninguém que estava na expedição foi atrás de nada. Aquilo ali foi uma denúncia no Ministério Público e eu não entendo por que não resolve nunca aquilo.
Mas de onde saiu essa informação de que estão movimentando o processo para prender o sr.?
É que você não conhece a política, a política é o terror. Está todo mundo sabendo disso aí na política.
O sr. teme ser preso?
Não, nem tenho medo de cadeia, zero.
Desistir da campanha para baixar a temperatura não é uma possibilidade?
Que desistir, moça. Eu sou o próximo prefeito, pode bater com todos os canhões juntos.
E se cassarem a sua candidatura?
Não vão cassar, não.
O sr. sabe que tem o risco de cassar.
O risco é de todo mundo, eu morrer, qualquer um morrer. Isso é normal. Risco é pra quem tá vivo.
No debate da Band o sr. disse que, se achassem uma condenação sua, o sr. desistiria da campanha. E o sr. já sabia que existia uma condenação no primeiro grau...
Eu estudei direito e não tem condenação. Ela foi prescrita e não foi transitada em julgado.
Não existia outra forma de tratar esse assunto?
Não precisa, porque eu estudei direito. É só dar uma aula pra você de direito e pra quem quiser.
Eu entendo que existem vários níveis na Justiça e que não transitou em julgado...
Então, não tem a condenação.
A condenação existe, em primeiro grau.
Não existe, ela foi prescrita. O seu problema chama atemporalidade. Quando você não entende de direito nem de temporalidade, você quer pegar o passado e fazer valer agora. Ela foi prescrita. Então não existe.
Quando a Tabata levantou conexões de pessoas de seu partido com o PCC, o sr. disse que o PCC está em quase tudo. Essa não é uma forma de tentar minimizar a gravidade das denúncias?
Por favor, pega, Tabata, vai lá e leva na polícia e prende esse povo, me ajuda a limpar esse partido. Eu acabei de chegar nele, eu estou precisando de ajuda. Já que você fez isso aí, me ajuda, tira esse povo de lá, oferta denúncia.
O sr. conversou com o Avalanche [Leonardo, presidente do PRTB, que aparece em áudio dizendo que tem ligação com o PCC] sobre essas denúncias?
Sim, falei pra se ele estiver devendo ele sair. Eu acredito no contraditório, na ampla defesa. Ele está se defendendo e espero que seja verdade a defesa dele. Se não for, ele vai sair.
E se for provado que existe uma relação...
Aí ele tem que sair.
O sr. se afasta dele?
Não, eu estou no partido, é ele que vai sair. Não é eu não. Eu não estou devendo nada.