Marca de chocolate com cacau yanomami mira expansão a partir de SP

há 15 horas 1

Quem passa em frente a uma construção rodeada por árvores em Santa Bárbara do Pará, na região metropolitana de Belém, talvez não imagine o que funciona lá dentro.

Trata-se de uma pequena fábrica de chocolates finos, a De Mendes, cuja produção é feita em parceria com comunidades tradicionais da Amazônia, incluindo indígenas yanomamis. O cacau que dá origem aos produtos é fornecido por esses grupos da região Norte.

Criada em 2014, a De Mendes planeja tirar do papel uma expansão dos negócios em 2025, a partir de São Paulo. O projeto prevê a abertura de lojas da marca inicialmente na capital paulista, além de uma nova unidade fabril.

A ideia é aproximar o chocolate do público consumidor no Sudeste. Atualmente, o mercado da De Mendes está concentrado no Pará e no ecommerce, segundo Marcelo Tucci, CEO da aceleradora de negócios CBKK, que virou investidora da De Mendes em 2020.

"A gente vai ter lojas físicas em São Paulo, assim como uma unidade fabril também", diz o executivo.

O número de pontos de venda que devem ser abertos ainda não é divulgado pela empresa. O plano de expansão mira novas operações até 2030.

A De Mendes já colocou seus chocolates à venda em supermercados e outras lojas, mas agora o foco passa a ser o varejo direto, conforme Tucci.

"A gente muda a estratégia e vai para lojas próprias. Não vai deixar de estar pontualmente no varejo, mas vai ser com um mix específico e para algumas redes específicas", afirma.

"A gente viu que não é, de fato, o nosso perfil estar brigando com o perfil de marca ou com o perfil de tamanho de outros players desse segmento", acrescenta.

A CBKK afirma que já fez um investimento de cerca de R$ 7 milhões na De Mendes. A aceleradora, fundada pelo empresário Stefano Arnhold (ex-Tec Toy), mira negócios considerados inovadores e com práticas sustentáveis.

Cerca de 70 comunidades da região amazônica fornecem insumos para a De Mendes, de acordo com Tucci. A lista inclui grupos como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e pequenos produtores rurais.

A parceria com as comunidades é tida como uma forma de geração de renda e, ao mesmo tempo, uma tentativa de manter a floresta de pé.

"Temos um critério de seleção das comunidades com as quais trabalhamos. O pedaço [de terra] de onde elas tiram o cacau tem de ser a floresta original ou áreas de agrofloresta", afirma Claudia Davis, responsável pelo desenvolvimento de negócios da De Mendes.

Sistemas agroflorestais são áreas que permitem a produção de alimentos em associação com a preservação de florestas.

"O cacau se presta muito a projetos de regeneração de áreas degradadas porque ele precisa do sombreamento. Vai muito bem à sombra de outras árvores", diz Claudia.

Uma das apostas da De Mendes é a rastreabilidade dos produtos. Por meio de QR code colocado nas embalagens, é possível consultar informações sobre a procedência do cacau utilizado nas barras de chocolate.

A marca também produz o chamado cupulate, feito a partir do cupuaçu. O responsável pela criação da fábrica e da cadeia produtiva sustentável é César De Mendes, chocolatier amazônida filho de mãe quilombola e pai ribeirinho.

O jornalista viajou a convite da FDC (Fundação Dom Cabral)

Leia o artigo completo