Quando digo que bilionários não deveriam existir, isso não quer dizer que desejo que esses homens sejam extirpados da face da Terra em seus foguetes que explodem e submarinos que implodem. Digo homens porque 90% dos bilionários que existem no mundo são homens brancos, de acordo com dados levantados pela Forbes no ano passado.
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Só anseio por um mundo em que esses caras sejam só multimilionários, sendo esta talvez a praga mais fofa que já roguei. "Que te contentes apenas com muitos milhões —dezenas, centenas, mas milhares, jamais!"
Se sou "bilionariofóbica", não é pelo fato de bilionários serem uma "minoria esmagadora" —0,004% da população. Também não é por preconceito, ainda que representantes como Elon Musk não colaborem.
Posso comprovar minha fobia com números. Como a ideia de 1 bilhão pode ser um tanto abstrata para o cérebro humano, apelei para a inteligência artificial para colocar essa grandeza em perspectiva.
Se você tivesse R$ 1 bilhão na sua conta e decidisse gastar R$ 1 milhão por mês, levaria 83 anos para gastar todo o dinheiro.
Se alguém desse R$ 1.000 a você todos os dias e você não gastasse um centavo, levaria três anos para economizar R$ 1 milhão. Se você quisesse economizar R$ 1 bilhão, teria de esperar cerca de 2.740 anos.
Se você ganhasse um salário mínimo por mês e não gastasse um centavo, levaria 72 milhões e 527 mil anos para juntar a fortuna de US$ 230 bilhões de Elon Musk.
A probabilidade de uma pessoa pobre se tornar bilionária no Brasil é bem menor que 0% (0,0001%). Se essa pessoa for da classe A, a probabilidade continua sendo bem menor do que 0% (0,0004%).
Consigo vislumbrar uma única vantagem da existência de bilionários no mundo. Obviamente não estou falando de crescimento econômico, porque o impacto da concentração de renda e da influência política exercida por esses caras tem o potencial de anular os benefícios gerais que eles poderiam trazer à economia.
O "lado bom" é que os bilionários estão tão distantes da maioria da população, que aproximam os 99,996% restantes. Já seria um avanço se textos como esse pudessem ao menos diminuir uma taxa inexpressiva de defensores de bilionários que estão entre nós. Digo inexpressiva porque, para os bilionários, esses defensores não fazem a menor diferença.