Dados colhidos pela sonda Juno, da Nasa, ajudam agora a desvendar os mistérios da fúria de Io, lua de Júpiter conhecida por seus potentes vulcões. São cerca de 400, espalhados por uma superfície mais ou menos equivalente à da nossa Lua, e despertam fascínio desde sua descoberta, pela cientista planetária Linda Morabito, ao analisar as imagens produzidas pela sonda Voyager 1 ao passar por Júpiter, em 1979.
Dentre as quatro maiores luas jovianas, descobertas por Galileu Galilei entre 1609 e 1610, Io é a mais interna. Com uma órbita elíptica em torno de Júpiter, ela é a mais sujeita ao poderoso efeito de maré gerado pela gravidade do maior planeta do Sistema Solar.
É desse estica-e-puxa produzido gravitacionalmente que vem o calor interno de Io, capaz de manter grandes depósitos de magma quente para abastecer as erupções vulcânicas que chegam a ejetar parte do material para o espaço e, com isso, espalham compostos de enxofre pelo entorno do sistema joviano.
Os cientistas imaginavam até que o efeito de maré fosse suficientemente potente para que Io tivesse um oceano subsuperficial global de magma. Mas os novos resultados da sonda Juno, vindos de dois sobrevoos próximos da lua, realizados em dezembro de 2023 e fevereiro de 2024, mudaram essa perspectiva.
As passagens próximas, a menos de 1.500 km da superfície, permitiram estimar com precisão a variação da força gravitacional ao longo de diferentes pontos da superfície de Io, de acordo com o trajeto da sonda. A intensidade da gravidade, sabemos, está atrelada à massa. As pequenas flutuações, portanto, indicam variações na distribuição da massa da lua. A partir desses padrões, é possível ter noções da estrutura interna do objeto, sem precisar cavar um buraco nele.
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Os cientistas liderados por Scott Bolton, investigador principal da missão Juno, juntaram esses novos dados da Juno a outros colhidos por missões anteriores a Júpiter, bem como a observações feitas por telescópios em solo, para criar o mais consistente mapa do campo gravitacional de Io. De posse dos resultados, notaram que ele não era consistente com a presença de um oceano raso de magma global sob a superfície, e sim com uma composição interna majoritariamente sólida, com apenas bolsões localizados de magma que servem como reservatórios para a atividade vulcânica.
O achado, publicado na revista Nature, não só aperfeiçoa a visão que temos de Io como também ajuda a estabelecer uma compreensão mais sofisticada de que poderosos efeitos de maré não necessariamente geram oceanos globais subsuperficiais de magma em corpos celestes, resultado que se aplica tanto a objetos do Sistema Solar quanto a exoplanetas.
E tudo isso é apenas um dos muitos bônus da missão Juno, que originalmente deveria estudar apenas a estrutura interna de Júpiter, mas acabou estendendo sua missão para explorar as luas jovianas. Infelizmente, a missão, operando lá desde 2016, já se aproxima do fim, marcado para setembro de 2025.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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