Mais antigo entre os grandes jornais paulistas em atividade, O Estado de S. Paulo completa 150 anos neste sábado, dia 4.
Fruto da movimentação de cafeicultores, empresários e outros expoentes da sociedade paulista com ideais republicanos, a primeira edição circulou em 4 de janeiro de 1875, com o nome de A Província de São Paulo.
Nos primeiros anos, estavam à frente do diário nomes como o advogado e jornalista Francisco Rangel Pestana e o também jornalista Américo de Campos. A Província circulava com quatro páginas e imprimia pouco mais de 2.000 exemplares.
Com quase uma década de vida, a publicação esteve perto da falência. Alberto Salles, que ocupava um cargo de direção, afugentou os anunciantes portugueses com suas posições antilusitanas. O diário acabou sendo salvo por um jovem jornalista vindo de Campinas, Julio Mesquita, que conseguiu levar a publicidade de volta às páginas e passou a assumir funções de maior responsabilidade na empresa.
Com o advento da República, em novembro de 1889, passou a se chamar O Estado de S. Paulo. Pouco mais de dois anos depois, Mesquita se tornou o único proprietário do jornal, que continua nas mãos da família depois de um século e meio.
"O jornal que nasceu para apressar o fim de um regime arcaico, a monarquia escravista, manteve sempre o compromisso de mirar seu próprio futuro e o do país, apostando em estar aparelhado do ponto de vista da tecnologia, de processos e de gestão de modo a continuar avançando —como ocorre agora com o processo permanente de transformação digital", afirma Francisco de Mesquita Neto, presidente do conselho de administração do Grupo Estado e membro da quarta geração da família no comando da empresa.
Esse processo contínuo de transformação digital implica, entre outras ações, uma atenção crescente à produção de vídeos e uma presença cada vez maior nas redes sociais.
"O primeiro contato dos jovens com informações jornalísticas, em geral, vai se dar em redes sociais, por isso nossas marcas precisam estar nesses ambientes. [Nosso objetivo] é diversificar os formatos para falar com as audiências onde elas estiverem", afirma Erick Bretas, que assumiu em julho de 2024 o cargo de CEO da S/A O Estado de S. Paulo, que inclui a gestão do jornal e da rádio Eldorado.
Nas primeiras décadas do século 20, na condição de um dos principais jornais do país, o Estado viveu turbulências com alguns presidentes da chamada República Velha. Mas nada que pudesse se comparar com os embates durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, quando o diário era comandado por Julio de Mesquita Filho e Francisco Mesquita, dois dos filhos de Julio Mesquita, que havia morrido em 1927.
Em março de 1940, a polícia getulista ocupou a Redação e as oficinas de impressão. Segundo esses agentes, havia metralhadoras escondidas no prédio, que seriam utilizadas para depor o presidente. Como conta Lira Neto no segundo volume da biografia sobre Getúlio, o Tribunal de Segurança Nacional comprovou a improcedência das denúncias. Muito provavelmente, diz o autor, as armas foram plantadas pelos próprios policiais.
O jornal permaneceu sob intervenção federal desde esse momento até dezembro de 1945, quando voltou para as mãos da família Mesquita.
"O Estadão, num país complexo como o nosso, passou por vários momentos difíceis nesses 150 anos. Penso que os mais difíceis foram a intervenção de Vargas no jornal e a censura imposta ao jornal pelo regime militar depois do editorial ‘Instituições em Frangalhos’", afirma Mesquita Neto.
De acordo com Oscar Pilagallo, autor de "História da Imprensa Paulista", o Estado apoiou enfaticamente o golpe de 1964. A família Mesquita promovia reuniões com golpistas, tanto militares quanto civis, desde a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961. Também manipulava o noticiário com o objetivo de derrubar João Goulart.
A Folha também apoiou num primeiro momento o golpe, mas agiu de modo mais discreto. A posição editorial do jornal não merecia maior atenção dos novos donos, Octavio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho, mais preocupados em sanear financeiramente a empresa.
Nos anos seguintes, o Estado se distanciou do regime militar. Em dezembro de 1968, publicou o editorial "Instituições em Frangalhos", com críticas ao presidente Costa e Silva.
Com a decretação do AI-5, que reforçou a máquina repressiva do governo federal, publicações como o Estado e a revista Veja foram submetidas à censura prévia.
Neste sábado, dia 4, o Estado lança um hub digital sobre os 150 anos, dividido em sete eixos temáticos: o próprio jornal, República, Economia, Terra, São Paulo, Tecnologia e Viver.
"Temos muito orgulho da história do Estadão e vamos celebrar essa história. Mas não será uma celebração com cara de museu, vamos olhar para frente", diz Bretas.
A principal característica [para chegar aos 150 anos] é a manutenção intransigente de seus valores fundadores, sobretudo a ideia de República, a liberdade e a democracia. Um jornal assim é reconhecido pelos leitores e pelo País como indispensável para a sociedade. Outra característica fundamental é o compromisso dos acionistas da empresa em manter sempre vivos esses valores através de uma empresa sustentável e independente
Estamos em um momento muito positivo do ponto de vista financeiro. Viemos de um ciclo de investimento com os nossos debenturistas, que entenderam que o Estadão é um veículo muito relevante na imprensa brasileira [além da emissão de debêntures, houve aporte de recursos dos acionistas da família Mesquita]. Eles se juntaram e fizeram um investimento que permitiu resolver o problema de endividamento de curto prazo do jornal