Imagine que você tem uma pequena goteira no telhado de sua casa. A princípio, parece algo inofensivo, e você resolve deixar passar, pensando que um conserto agora não é necessário. Com o tempo, porém, essa goteira vai se acumulando, causando mais e mais danos, até que o custo para arrumar o telhado inteiro se torna bem maior do que teria sido no início. Esse é o dilema que muitos investidores enfrentam ao escolherem ETFs americanos de baixo custo, sem perceber que há outros "vazamentos" financeiros ao longo do caminho.
Atraídos pelas baixas taxas de administração dos ETFs nos EUA, muitos investidores brasileiros acabam ignorando os custos ocultos. A maioria das contas para investimentos internacionais oferecidas no Brasil dá acesso apenas ao mercado americano, onde os ETFs parecem uma escolha lógica. No entanto, esses investidores esquecem que os ETFs americanos, por legislação, são do tipo distributivo. Isso significa que eles distribuem seus rendimentos periodicamente, seja na forma de dividendos ou juros, como acontece com títulos de renda fixa ou REITs.
O problema está na tributação desses rendimentos. Para nós, investidores estrangeiros, a alíquota é de 30%, o que diminui consideravelmente o retorno. Além disso, há a necessidade constante de reinvestir esses dividendos, já que, sem isso, o poder dos juros compostos perde sua eficiência. Esse reinvestimento frequente, além de ser uma tarefa que exige disciplina, traz outro custo: o da corretagem.
Outro ponto crítico é o imposto sobre herança nos EUA, que pode chegar a 40% do valor investido. Esse custo adicional muitas vezes não é levado em consideração por quem busca a simplicidade e o baixo custo dos ETFs.
Para ilustrar, tomemos como exemplo o ETF de renda fixa SGOV, que investe em títulos de curto prazo do Tesouro Americano, equivalente a um "ETF de Selic americana". Em 2024, esse ETF pagou juros mensais de cerca de 0,44%, o que resultaria em 5,4% ao ano se reinvestido. Porém, após o desconto do IR de 30%, o rendimento cai para 0,308% ao mês, ou 3,69% ao ano, caso o investidor não tenha disciplina de reinvestimento.
Nesse cenário, uma alternativa equivalente e mais eficiente seriam os mutual funds, que funcionam de forma similar aos fundos abertos no Brasil. Os fundos de Money Market, por exemplo, têm taxas de administração em torno de 0,4% ao ano, e seus rendimentos nos últimos 12 meses superaram 5% ao ano. Ou seja, um ganho em excesso ao equivalente SGOV de mais de 1% ao ano. A grande vantagem desses fundos é que eles não distribuem rendimentos periodicamente, evitando a pesada tributação sobre dividendos e o temido imposto de herança americano.
Em resumo, muitos investidores, ao serem atraídos pela ilusão de menores taxas de administração nos ETFs, acabam pagando um preço oculto muito mais elevado em impostos e ineficiências. O que parecia ser um custo baixo se transforma em um rombo significativo nos retornos, especialmente a longo prazo. É como consertar um telhado tarde demais – o que parecia uma economia no início, acaba saindo caro.
Ao invés de focar apenas nas taxas de administração, é fundamental analisar o cenário completo: tributação, necessidade de reinvestimento e riscos sucessórios. Mutual funds, apesar de parecerem menos atraentes à primeira vista, podem oferecer um retorno líquido mais robusto e eficiente, especialmente quando se considera a liberdade de não precisar lidar com tributações periódicas ou heranças complicadas. Afinal, nos investimentos, o que importa é o retorno final no seu bolso, e não apenas o que parece mais barato no primeiro olhar.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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