Os brasileiros, em geral, veem a compra de dólar como uma estratégia positiva e conservadora. Quando surge a oportunidade de lucrar tanto com a alta quanto com a baixa da moeda, a oferta parece irresistível. No entanto, é preciso controlar o impulso e fazer uma avaliação cuidadosa. Hoje, vou te ensinar a analisar essa estratégia.
A ideia de que adquirir moeda estrangeira é uma atitude conservadora é algo ultrapassado. Provavelmente, levará pelo menos mais uma geração para essa visão ser descartada. Por isso, já espero ser criticado por muitos ao expor essa opinião.
A prática de comprar dólar como forma de proteção vem de um tempo em que não havia mecanismos eficientes contra a inflação. Felizmente, o Brasil possui hoje um mercado financeiro mais desenvolvido, com uma ampla gama de produtos indexados à inflação, que garantem essa proteção do poder de compra.
Achamos que contar com produtos que protejam contra a inflação é algo trivial, mas não é tão comum assim. Em países vizinhos, por exemplo, a compra de bens e moedas estrangeiras é quase a única maneira de proteger o patrimônio. Essa realidade era comum no Brasil no passado.
Lembro que, antigamente, até a compra de carros ou telefones servia como uma forma de proteger o poder de compra. Recentemente, conversei com uma pessoa de um país vizinho que disse que, por lá, comprar um carro ainda é uma maneira de se proteger da inflação. Mas vamos deixar essa discussão para outra hora e focar no nosso tema: como avaliar se vale a pena investir em um instrumento que permite lucrar com a valorização ou desvalorização da moeda americana.
O instrumento ao qual me refiro é uma operação estruturada. Antes que surjam críticas, deixo claro que não tenho restrições quanto ao produto em si. O que realmente importa são o resultado e o risco envolvidos.
Como mencionei, a possibilidade de ganhar 100% da valorização ou desvalorização do dólar nos próximos dois anos, já líquida de custos (exceto o imposto de renda), parece atrativa. No entanto, essa atratividade está ligada ao comportamento mencionado anteriormente. Vamos então entender como avaliar essa oportunidade.
O dólar hoje (19/09) fechou a R$ 5,43. Temos de imaginar sua oscilação futura. Sei que isso é difícil, mas em vez de simplesmente projetar, vamos comparar esse investimento com uma alternativa simples e de baixo risco.
Suponhamos que o valor que você pretende aplicar poderia ser investido em um CDB que pague 110% do CDI pelos próximos dois anos. Se considerarmos que o CDI médio ao longo desse período será de 10,5% ao ano (apesar de o CDI atual estar mais alto, vamos assumir que ele caia e mantenha esse retorno médio), a rentabilidade total ao final de dois anos seria próxima de 25%.
Para que a operação em dólar seja vantajosa, o câmbio precisaria oscilar ao menos 25% nesse período. Com o dólar a R$ 5,43, isso significaria que, em dois anos, ele estaria valendo R$ 6,80 ou R$ 4,34.
Portanto, a sua decisão deve levar em conta se você acredita que o dólar estará acima de R$ 6,80 ou abaixo de R$ 4,34 nos próximos dois anos. Eu, pessoalmente, acho essa oscilação improvável.
O câmbio é um instrumento extremamente volátil, e as flutuações recentes costumam influenciar nossa percepção. No entanto, é essencial analisar sob uma perspectiva mais ampla. Por exemplo, hoje o câmbio está no mesmo patamar de abril de 2020. Ou seja, quem investiu nesse tipo de operação nos últimos quatro anos perdeu uma excelente oportunidade de retorno na renda fixa, já que o dólar oscilou bastante, mas, no final, não saiu do lugar.
Em resumo, sempre que for tomar uma decisão envolvendo um investimento de risco, deixe o sentimento de lado e compare com uma alternativa de baixo risco. Considere também as probabilidades de o investimento de risco realmente entregar um retorno superior.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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