Investidores canadenses chegam ao Brasil à procura de lucro com minerais críticos

há 1 dia 1

Um grupo de seis investidores canadenses iniciou na segunda-feira (31) reuniões de dois dias com mineradoras brasileiras interessadas em abrir capital no Canadá. A visita é organizada pela Bolsa de Toronto e acontece em São Paulo.

Esses investidores estão em São Paulo para conversar com 14 mineradoras brasileiras, sendo a maioria donas de reservas de minerais críticos para a transição energética, como cobre, lítio, níquel e cobalto. Há também algumas de ouro.

Junto com a Austrália, o Canadá é a principal porta de entrada de empresários brasileiros que querem atrair capital para extrair minerais no Brasil. A Bolsa de Toronto abriga hoje 32 mineradoras com ativos no Brasil, incluindo algumas pré-operacionais –ao todo, elas somam 95 operações.

O Brasil não tem hoje mecanismos consolidados que permitam a entrada de mineradoras pré-operacionais (apelidadas de junior mining companies) na B3. Com isso, empresários brasileiros têm dificuldade de atrair capital para seguir adiante com seus projetos, o que os obriga a buscar opções em outros mercados, como o canadense.

Os seis investidores que estão no Brasil são donos de empresas cuja função é exatamente encontrar projetos em estágios iniciais. Chamadas de CPCs (sigla para Capital Pool Company), essa categoria de empresa aberta foi criada no Canadá ainda na década de 1990 para facilitar a entrada de empresas na Bolsa.

Nesse modelo, investidores canadenses compram ações das CPCs, que têm a função de encontrar empresas com bons ativos interessadas em entrar na Bolsa canadense. Após fecharem negócio, gestores da CPC e da empresa em estágio inicial iniciam uma operação para que a empresa adquira a CPC, tomando seu lugar na Bolsa de Toronto.

"Essas CPCs já são listadas na TSX Venture, então elas já têm um número mínimo de acionistas e têm um pouco de capital também, entre 500 mil e 1 milhão de dólares canadenses (R$ 1,98 milhões e R$ 3,99 milhões)", diz Guillaume Légaré, diretor da TSX na América do Sul. Geralmente, essa negociação acontece por meio da entrega de parte das ações da empresa para o dono da CPC.

"Com isso, após a negociação, a empresa pode usar a CPC para se listar e levantar capital. Empresas júnior podem levantar com essa estrutura entre 2 e 10 milhões de dólares canadenses", afirma Légaré.

A Sigma Lithium, maior mineradora de lítio do Brasil, por exemplo, entrou na Bolsa de Toronto exatamente desta forma em 2017 –na época, a empresa ainda era pré-operacional.

"O principal benefício é que a CPC já tem uma equipe de gestão com experiência no mercado de capitais canadense. Então, eles já montaram uma estrutura com número mínimo de acionistas, que é importante para se listar na bolsa. E depois, como eles têm experiência no mercado de capitais canadense, eles podem manter uma posição no conselho da empresa quando ela for listada", afirma Légare.

O contato de segunda e terça, no entanto, é só uma oportunidade para os gestores se conhecerem. Após esse primeiro encontro, os canadenses mapearão quais projetos lhe chamaram atenção e agendarão novas reuniões.

"Precisamos fazer mais diligência, mas definitivamente há ativos que vimos hoje que fazem sentido. Não pretendo ter mais conversas com todos elas, mas há uma empresa de terras raras com a qual provavelmente falarei, assim como uma de lítio", diz Paul Barbeau, sócio da NPN Financing Partner. Ele cria e vende CPCs desde 2004, e hoje é também investidor da Lithium Ionic, empresa pré-operacional que quer extrair lítio em Minas Gerais, próximo ao complexo da Sigma.

Na quarta (2), os canadenses partem para Mendoza, na Argentina, onde conversarão com empresários argentinos e chilenos.

A Argentina, aliás, atrai mais atenção de alguns investidores do que o Brasil. Raymond Harari, fundador da Canalis Capital, diz estar atrás de minerais críticos nos dois países, mas espera encontrar melhores projetos na Argentina devido à abertura de mercado iniciada pelo presidente Javier Milei.

"Milei está permitindo que o dinheiro saia do país, o que sempre foi um problema. E eles têm uma fronteira de 5.300 km com o Chile, que produz 25% do cobre mundial, enquanto eles não produzem nada. Então, acho que eles vão se recuperar nisso. Acho que há muitas oportunidades", afirma.

Ele avalia os projetos brasileiros apresentados nesta segunda como medianos, uma vez que alguns não apresentam documentos exigidos no Canadá que comprovem ao investidor o tamanho das reservas anunciadas.

"De qualquer forma, estou aberto a qualquer metal. Acho que só precisamos encontrar coisas que estão subvalorizadas e que se pode financiar e gerar um retorno para os investidores; pode ser ouro, pode ser prata, pode ser cobre, pode ser terras raras", afirma Harari. "Trata-se de contar uma história para o mercado e, se os investidores comprarem essa história, então há uma oportunidade."

Leia o artigo completo