Sem poder concorrer nas eleições até 2030, Jair Bolsonaro (PL) se mantém como um cabo eleitoral cobiçado por candidatos nos pleitos de 2024. Nas primeiras duas semanas da propaganda eleitoral, o ex-presidente apareceu em mais de uma dezena de propagandas no rádio e na televisão de norte a sul do país.
Levantamento da Folha registrou pelo menos 20 municípios em que candidatos já citaram, mostraram imagens ou tiveram depoimentos de Bolsonaro exibidos na propaganda eleitoral. O ex-presidente gravou vídeos para políticos de ao menos oito municípios do país.
Em Joinville, Santa Catarina, a propaganda de Sargento Lima (PL) afirma que ele é o único postulante na cidade com o apoio de Bolsonaro. Em seguida, é o ex-presidente quem fala e reforça que o candidato tem seu apoio. Lima concorre com o atual prefeito da cidade, Adriano Silva (Novo), que fez campanha para Bolsonaro em 2022.
A estratégia de usar o ex-presidente em depoimentos para oficializar o seu apoio em cidades com mais de um nome da direita é repetida pelo PL em todo país. Depoimento exibido pelo candidato Chico França (PL), de Itabuna, na Bahia, expõe o foco da sigla nas eleições de 2026.
"O futuro do Brasil passa pelos municípios. Essa grande bancada que faremos, se Deus quiser, por todo o Brasil, será decisiva para que a direita e os conservadores voltem ao poder em 2026", afirma o ex-presidente na propaganda exibida no sul da Bahia.
Na capital do Amazonas, ele faz campanha para Eder Mauro (PL). "A todos de Manaus, eu faço um pedido especial. A todos que confiaram no meu trabalho, confiem agora em Alberto Neto", pede o ex-presidente.
A inelegibilidade não impede que Bolsonaro participe de propagandas eleitorais. A decisão de junho de 2023 não suspendeu seus direitos políticos, informa o advogado Alberto Rollo, especialista direito eleitoral.
O TSE julgou a participação do então presidente na reunião com embaixadores no Palácio do Planalto em 18 de julho de 2022. Na ocasião, ele questionou o sistema eleitoral brasileiro e a segurança das urnas eletrônicas, sem apresentar provas.
O ex-presidente também teve outra condenação no TSE com pena de inelegibilidade, desta vez devido ao uso eleitoral do 7 de Setembro de 2022.
Brasília Hoje
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A única limitação para Bolsonaro, que vale para qualquer outro padrinho que apareça na propaganda eleitoral, é respeitar o limite de 25% de tempo de exposição. O Tribunal Superior Eleitoral determina que outros que não o candidato podem aparecer no máximo por um quarto do tempo da propaganda.
"Caso o candidato ultrapasse essa reserva de 25%, ele poderá tempo na próxima exibição de propaganda", afirma Rollo. O percentual é calculado a partir do total das inserções de um dia.
A ex-primeira dama Michelle Bolsonaro também foi chamada para pedir votos na eleição municipal. Em Petrolina, Pernambuco, ela gravou depoimento para Lara Cavalcanti (PL).
"Para isso, nada melhor do que escolher a empatia e o cuidado, que são característicos na mulher. Portanto, o seu voto nos nossos candidatos será decisivo para a construção de um novo Brasil", diz.
Candidatos de partidos com o PL na coligação também tiveram vídeos gravados. Em Londrina, Paraná, Tiago Amaral (PSD) exibiu o cabo eleitoral na TV. "O futuro do município, se Deus quiser, estará na mão desse jovem aqui", diz Bolsonaro.
Há aliados, porém, que até agora exibiram o ex-mandatário de maneira tímida, em rápidas passagens de imagens de comícios. Em São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) tem o apoio declarado de Bolsonaro à reeleição. Na inserção do atual prefeito, ele é visto em cortes rápidos de um evento, e não é citado.
Como justificativa pela falta de engajamento, o ex-presidente afirmou ser muito cedo para entrar massivamente na campanha. "Pode ser que tenha que esperar um pouco mais".
Adversário do atual prefeito, Pablo Marçal (PRTB) é quem tem a maior parcela de bolsonaristas no seu eleitorado. Os dois estão tecnicamente empatados na última pesquisa Datafolha. Guilherme Boulos (PSOL) tem 23%, o influenciador, 22%, e Nunes, 22%, das intenções de voto.