Indústria brasileira deve crescer o dobro em 2024 e sustentabilidade alavanca setor

há 2 semanas 2

A indústria brasileira deve crescer o dobro em 2024 e a taxa prevista é superior aos 3%, a maior alta dos últimos anos, de acordo com Uallace Moreira, Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Em 2023, o avanço foi de 1,6%. “O crescimento deve ser puxado especialmente pelos setores de alta complexidade tecnológica. O emprego industrial também tem batido recordes e a indústria se encontra num cenário extremamente favorável”, diz.

Para ele, o país vive uma nova fase industrial após o anúncio da política de neoindustrialização, (o programa NIB – Nova Indústria Brasil), em janeiro deste ano. “Esse cenário tem feito com que a indústria volte, de fato, a ter um papel protagonista no crescimento econômico. Todos os programas que o governo implementou vêm promovendo um ambiente propício para grandes anúncios de investimentos privados”, diz.

De acordo com Moreira, o setor industrial vive um processo de aprimoramento e o governo federal está focado em políticas que possam adensar cadeias produtivas em que o Brasil tem alto potencial para desenvolvimento. “Esse processo tem contribuído para que a indústria brasileira tenha uma recuperação e contribua para o crescimento do país. No PIB do segundo trimestre, a indústria já cresceu 1,8%, enquanto o PIB geral subiu 1,4%”, afirma.

Continua depois da publicidade

Segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria), o setor industrial é responsável por 25,5% do PIB brasileiro e emprega mais de 11 milhões de trabalhadores em diversos setores. Para Ricardo Alban, presidente da CNI, a adoção de políticas públicas focadas na indústria tem uma explicação simples: “seja nas economias mais desenvolvidas ou no Brasil, é ela que detém capacidade de dinamizar cadeias produtivas e outros setores da economia. É também na indústria que mais se oferta e consome inovação, na qual se agrega valor ao produto nacional e se encontram os melhores empregos.”

Para ele, o Programa Nova Indústria Brasil é relevante para o cenário atual. “A indústria está profundamente engajada com essa agenda. Vamos trabalhar para que os recursos empregados se convertam em desenvolvimento produtivo, crescimento econômico, empregos e renda para a população brasileira.”

No entanto, ainda há desafios expressivos pelo caminho. “As indústrias dos Estados Unidos, da União Europeia, do Reino Unido e do Japão estão recebendo US$ 6,8 trilhões em políticas industriais. Se nesses países os objetivos não se alcançam sozinhos, nossa situação é ainda mais difícil, pois partimos de um ambiente de negócios que custa às empresas R$ 1,7 trilhão ao ano em Custo Brasil e de um spread bancário de 27,4%, diante de uma média mundial de 7,3%”, diz.

Continua depois da publicidade

O fato é que o crescimento econômico do país passa pelo fortalecimento da indústria e a neoindustrialização. Afinal, o setor funciona como um termômetro da economia nacional e há parques industriais em todo o território nacional, o que coloca o Brasil entre os dez principais produtores industriais do mundo.

Além disso, a indústria coordena discussões relevantes como investimentos em infraestrutura, comércio exterior (setor é responsável por 66,6% das exportações de bens e serviços), inovação (com  66,8% investimento em pesquisa e desenvolvimento) e geração de emprego e capacitação (indústria responde por 21,2% de participação de empregos formais no Brasil).

O setor também atua para saúde e bem-estar da população, uma vez que a indústria cria instrumentos, ferramentas e produtos para que as pessoas tenham mais saúde e mais qualidade de vida (país é o quarto maior mercado consumidor dos produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos). Tudo passa pela indústria e a cada R$ 1 produzido nas fábricas brasileiras são gerados R$ 2,44 na economia nacional.

Continua depois da publicidade

Crescimento passa pela sustentabilidade

Segundo estimativas do Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe – CAF, o Brasil pode faturar entre US$ 55 e US$ 395 bilhões só em exportações de produtos com selo sustentável, até 2032. Para Rafael Lucchesi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, a evolução da indústria nacional passa obrigatoriamente pela sustentabilidade.

“Temos que criar as competências para nos tornar grandes exportadores de manufaturas verdes e desenvolvedores de tecnologias. Além do uso dos recursos naturais e renováveis para desenvolvimento de novos produtos, o Brasil reúne as condições necessárias para ser mais competitivo, utilizando-se das vantagens de sua matriz elétrica e energética limpas e da estratégia de powershoring”, diz.

Continua depois da publicidade

Para ele, o Brasil precisa pensar além de ser somente um produtor de energia verde, como uma nova commodity, mas trabalhar para usar a energia verde como uma grande vantagem competitiva. Além disso, um fator importante da NIB são as condicionalidades e contrapartidas para acesso aos benefícios da nova política industrial.

“O programa Mover, por exemplo, visa promover a expansão de investimentos em eficiência energética, incluir limites mínimos de reciclagem na fabricação dos veículos e cobrar menos imposto de quem polui menos, com requisitos como centro de custo de P&D e investimentos mínimos em P&D para acesso aos incentivos”, afirma.

Ou seja, quem não focar na sustentabilidade ficará para trás. E a questão é favorável para o país, que tem como vantagem competitiva o fato de que 83,7% de sua energia vem de fontes renováveis, segundo a Aneel, enquanto a média mundial é de 29%. “Por meio da biotecnologia e da descarbonização de processos produtivos, será possível agregar mais valor à produção em setores como combustíveis minerais, biocombustíveis, produtos químicos, fertilizantes, cosméticos, farmacêutico, plástico, celulose e papel, cerâmica, vidro, aço, ferro e alumínio”, diz Lucchesi.

Continua depois da publicidade

Setor de alumínio já experimenta crescimento por meio da reciclagem

Janaina Donas, presidente-executiva da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL), atesta que a sustentabilidade já faz diferença na indústria de alumínio, setor que contribui com 5,6% do PIB Industrial do país e é responsável pela geração de mais de 511 mil empregos diretos e indiretos.

Segundo ela, a produção brasileira de alumínio primário expandiu 26% nos últimos anos, atingindo mais de 1 milhão de toneladas, e um dos drives de crescimento da indústria é a reciclagem. “Atualmente, cerca de 60% do alumínio consumido no país já provém de fontes recicladas, enquanto a média mundial é de 30%. E, analisando apenas o desempenho do segmento de latas de alumínio para bebidas, há mais de 15 anos, o índice de reciclagem se mantém acima dos 96%”, afirma.

Dados recém-divulgados pelo International Aluminum Institute (IAI) dão conta que a demanda global por alumínio reciclado pode até quadruplicar até 2050, atingindo cerca de 80 milhões de toneladas. O estudo relaciona o aumento de demanda com a intensidade do avanço do aquecimento global nas próximas décadas.

Apesar das estimativas positivas para o setor, a executiva diz que ainda é cedo para avaliações definitivas e pondera o impacto das eleições americanas no contexto. “Embora a política comercial do ex-presidente Donald Trump tenha seguido uma linha mais protecionista, com a implementação de tarifas ao alumínio importado, é relevante observar que o governo democrata subsequente não realizou qualquer movimento de revisão ou reversão dessas tarifas. Esse cenário sugere uma certa continuidade na abordagem americana em relação à proteção de indústrias estratégicas, independentemente da administração em vigor”, diz Janaina Donas.

A expectativa está no crescimento de barreiras comerciais relacionadas a questões ambientais, que podem impactar os fluxos de comércio e a competitividade de mercados globais, sendo essencial analisar os riscos e as oportunidades que apresenta. “Por um lado, a corrida pela descarbonização deve resultar no estabelecimento de políticas mais rigorosas; por outro, existe a possibilidade de favorecer o acesso a mercados de produtos com baixa intensidade carbônica, área em que a indústria brasileira do alumínio se destaca. Ainda é incerto”, afirma.

A possibilidade de novas sobretaxas ou barreiras é uma preocupação para a indústria como um todo, pois as medidas não apenas dificultam o acesso a mercados nos quais o Brasil é competitivo, mas também elevam o risco de desvios de comércio. Além disso, aumentam a exposição do Brasil a práticas de comércio desleais de outras regiões, reforçando a necessidade de estratégias que protejam a competitividade da indústria brasileira em um ambiente global cada vez mais desafiador.

Leia o artigo completo