Hugo Motta (Republicanos-PB), 35, foi eleito neste sábado (1º) presidente da Câmara dos Deputados para o biênio 2025-2027, se tornando o mais jovem presidente da Casa da história.
O deputado chega ao cargo mais alto da Câmara pelas mãos de Arthur Lira (PP-AL), que foi o principal fiador de sua candidatura, e após uma reviravolta que tirou os principais competidores da disputa, a partir de setembro.
Neste sábado, Hugo recebeu os votos de 444 dos 513 deputados da Câmara. Marcel Van Hattem (Novo-RS) teve 31, e Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ), 22. Houve ainda dois votos em branco.
Com apoio de quase todos os partidos da Casa, Hugo não teve adversários competitivos e estava virtualmente eleito antes mesmo de o resultado ser anunciado.
Hugo, porém, não superou recorde de Lira. Em 2023, o alagoano teve 464 votos de 508, tornando-se, naquele momento, recordista desde a redemocratização do país.
A eleição de Hugo também torna Lira o primeiro presidente da Casa desde a redemocratização a escolher e eleger o seu sucessor. O alagoano, que encerra quatro anos de mandato à frente da Câmara, conduziu conversas e acordos que levaram o deputado do Republicanos a ter apoio da maior parte das legendas da Casa.
Um dos principais desafios de Hugo será, justamente, conciliar os interesses do leque dos partidos que o apoiam, indo do PT de Lula ao PL de Jair Bolsonaro. Um dia após ser alçado à disputa, ele se reuniu com o petista e com o ex-presidente.
Ao longo da campanha, Hugo fez acenos aos dois partidos, sem se comprometer com temas espinhosos, caso do projeto de lei que dá anistia aos condenados pelos ataques golpistas do 8 de janeiro ou da proposta que regulamenta as redes sociais. Às vésperas da eleição, divulgou o seu slogan de campanha: "Do lado do Brasil".
De família de políticos, é descrito por aliados como de perfil conciliador, sereno e habilidoso nas negociações —com forte atuação nos bastidores. Pessoas próximas ao parlamentar também dizem que ele não pode ser classificado nem como governista nem como oposicionista.
Em seu quarto mandato, o parlamentar se destacou pela boa relação com diferentes correntes políticas na Câmara, mas esteve mais próximo de políticos influentes do centrão, entre eles Lira, o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), e o ex-deputado Eduardo Cunha, que presidiu a Casa em 2015 e 2016.
Ainda assim, no governo federal, há uma expectativa de melhora na relação com a cúpula da Casa após a eleição de Hugo, com diálogo e compromisso com pautas prioritárias do Executivo, sobretudo na área econômica. Hugo é próximo de ministros do governo, como Renan Filho (Transportes) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
O cenário para o governo no Congresso, entretanto, não é fácil. A esquerda é minoritária, e Lula conviveu nos dois primeiros anos de governo com uma base instável mesmo tendo distribuído 11 ministérios a PSD, União Brasil, MDB, Republicanos e PP.
Uma das primeiras dores de cabeça de Hugo à frente da Câmara deve ser o impasse em torno do pagamento das emendas parlamentares, tema que mobiliza todos os deputados. Aliados apostam no diálogo de Hugo com o STF (Supremo Tribunal Federal) para conduzir novas negociações, sem deixar os interesses dos parlamentares em segundo plano.
Deputados próximos ao novo presidente da Câmara dizem ainda que ele pretende "reviver" o plenário da Casa, com a presença dos deputados para debates mais aprofundados das matérias e com a previsibilidade da pauta de votações —com equilíbrio nas matérias para atender a todos os partidos.
Ele também tem afirmado que quer valorizar o trabalho das comissões temáticas, diminuindo o número de requerimentos de urgência levados ao plenário —em caso de aprovação no plenário, esses requerimentos, frequentemente usados por Lira, anulam a necessidade de os projetos serem discutidos nas comissões.